sexta-feira, 21 de novembro de 2008

ME PEGO PENSANDO COMO

Por: Xico Sá

Como ela vem. Como está sendo o seu banho exatamente agora. Como ela ta cheirosa, mas que sue um tiquinho no camiño para dosar na conta, nossa! Como ela se olha no espelho na hora de se trocar. Como. Como ela fez o barulhinho do elástico da calcinha, pleft, a mais linda onomatopéias das moças. E nas vitrines da rua, como será aquela rápida mirada, extrato para simples conferência demasiadamente feminina. Como ela brigou com o cabelo hoje, porque em alguns dias os cabelos teimam em desobedecer às mulheres, sejam eles como forem. Como ela encarou o armário. Como enfiou a colher no papaia logo cedo antes de todas as acontecências. Como ela blasfemou contra o universo. Como ela disse “ai," ao teléfono, "mãe, num se preocupa, eu já estou grandinha”. Como os homens a olharam no percurso, que os homens do andaime não assobiem um “gostosa” hiperbólico, sob pena de ela se achar cheinha deveras, mas que assobiem alguma coisa, que não pequem por omissões – ah, não, são homens de verdade, não trabalham com elipses. Como ela deu aquela ajeitadinha nos peitos, agora já recuando para o começo das ações, o espelho. Como ela roçou um lábio no outro para corrigir o batom e dosar na maldade. Como ela decidiu por sandálias e não por sapatos ou tênis. Como ela pôs o rosto na janela para ouvir o homem do tempo. Como ela deu aquele saltinho na rua de moça feliz por hoje. Como ela achou que o celular tocava dentro da bolsa só porque eu pensava nela e não era nada pouco.

sábado, 15 de novembro de 2008

A campanha pela volta do cafuné continua

Por Xico Sá

Dos dengos femininos, ou historicamente femininos, o que mais nos faz falta, é o cafuné.

Nos dias avexados de hoje, não há mais tempo nem devoção para os delicados estalinhos no cocoruto do mancebo.

Pela volta imediata do mais nobre dos gestos de carinho e delicadeza. Nem que seja pago, como o sexo das belas raparigas dos lupanares, mas que devolvam vossas mãos às nossas cabeças.

Pela criação imediata da Casa de Cafunés Gilberto Freyre, como me propõe, em sociedade, a amiga Maria Eduarda Risoflora Belém. Ótima idéia a ser espalhada por todo o país. Milhares de casas, guichês, varandas, redes debaixo de coqueiros, sofás na rua... Tudo a serviço dos breves e deliciosos estalinhos dos dedos das moças.

Gilberto Freyre era um entusiasta do cafuné e a ele dedicou páginas e páginas. GF, aliás, escrevia como quem dá cafuné, prosa mole, ritmo dos mais sensoriais. Como também assenta palavras outro Freire, sem o estilingue do Y, o Marcelino de “Contos Negreiros”.

Que machos & fêmeas sejam treinados, em um programa social de emergência, para reaprenderem o hábito do cafuné.

Melhor: que seja feita uma campanha de saúde pública. Ah, quantas doenças de fundo nervoso seriam evitadas, quantos barracos de casais seriam esquecidos, quantos juízos agoniados seriam libertos!

Sem se falar no erotismo que desperta o dengo, como anotou outro sociólogo, o francês Roger Bastide, no seu belo ensaio “Psicanálise do Cafuné”. Pura libido.

Delícia de se sentir; beleza de se ver. O cafuné de uma mulher em outra, ave palavra!, puro cinema, para além muito além do lesbian chic.

Como era comum, na leseira de fim de tarde, nos quintais e nas calçadas.

Ao luar, então, sertões e agrestes adentro, era puro filme de Kurosawa. O resto era silêncio.

Ai que preguiça boa danada, ai que arrepio no cangote, quero de volta meus cafunés.

Viver de brisa, como na receita de Bandeira, numa rede na rua da Aurora, sob a graça dos dedos de uma morena jambo ou de uma morena caldo-de-feijão.

Como pode uma criatura, como esses rapazes de hoje, passarem pela vida sem provar do êxtase de um cafuné?

Pela obrigatoriedade do cafuné nos recreios escolares, nas missas, nos cultos, nos intervalos dos jogos de qualquer esporte.

Não é possível que se condene toda uma geração a viver sem cafuné. Eis uma questão de segurança nacional. Tão importante como aprender a assinar o próprio nome. O cafuné, aliás, é a assinatura em linda e barroca caligrafia de mulher.

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

DA ESPIONAGEM AMOROSA & OUTRAS INVASÕES BÁRBARAS

Crônica publicada em 10/11/08 no Carapuceiro

Por: Xico Sá


A amiga M. conta que, mais uma vez, caiu na tentação de fazer uma rápida espionagem no telefone do mancebo.

Quem manda!

Quem procura, acha, como grita o adágio popular mais óbvio.

Aproveitou o banho do condenado para ver, pelo menos, as últimas mensagens de texto.

Maldita caixa de entrada.

Claro que encontrou merda, com licença da palavra, mas foi essa a descarga de inevitável léxico –que outro vocábulo poderia usar nesta fatídica hora?- a preferida para o desabafo a este cronista e conselheiro das moças.

Encurralado, o miserável já havia dito que ficara com outra donzela.

Nada demais, só uns beijos, disse o réu confesso diante das provas incontestáveis. Hoje uma fotinha digital, enviada anonimamente por e-mail, vale por mil cartas anônimas de antigamente.

O infeliz das costas ocas, o lazarento, o febre-do-rato, o cabra safado –aqui reproduzo fielmente o rosário de adjetivos usado por minha amiga traída- aproveitou um desses carnavais fora de época para a famosa prática do pulo à cerca, o mais olímpico e familiar dos esportes brasileiros.

Um homem picareta e uma folia de micareta, definitavamente, não rimam com fidelidade e amor.

A amiga M., porém, já sabia com quem lidava, idiota quem acha que é tarefa fácil engambelar uma fêmea. Não que o moço fosse de tudo um canalha legítimo, era apenas um homem, ainda um amador nessa arte.

O que incomodou mesmo a colega foi a falta de criatividade do desalmado. O filho de uma rapariga havia escrito para a nova presa a mesmíssima coisa que rabiscara mal e porcamente na mensagem com destino à doce M.

Tudo bem, não era nada genial, mas uma frase comovida, dizendo quão bela fora a primeira noite dos dois juntos. Sim, porque é ridículo que um macho e uma fêmea, chabadabadá, como diz a trilha daquele famoso filme de Claude Lelouch (“Um homem, uma mulher, 20 anos depois”, em todas as locadoras do ramo), se locupletem na cama e o silêncio torne irrespirável o dia seguinte.

É preciso, é necessário, e deveria constar da Declaração dos Direitos Universais do Homem, que se diga pelo menos uma coisinha, um agrado, SMS, um mimo, ainda sob o sol que se levanta muito antes dos dois. Não estamos falando em casamentos ou outros laços duradouros, amigo, é questão de educação e delicadeza, simplesmente um carinho depois de tanta intimidade.

O que chateou a amiga, de modo a doer-lhe no fígado, foi que o mal-assombro dela usou as mesmas palavras que mandou para a “vagabunda”.

Claro que o ciúme não é apenas do plágio, da cópia automática, mas isso prova como os homens, além de frouxos para encarar os romances, andam sem a menor criatividade. Gente que gasta a maior lábia para os negócios e os projetos culturais –caso do mancebo sob o tiro ao alvo desta crônica- é incapaz de variar em duas linhas para uma mulher honesta, digo, para uma mulher que presta!

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Gabarito - simulado interno 3º ano

1 e
2 a
3 e
4 a

Gabarito - simulado interno 2º ano

1 d
2 c
3 c
4 a

Simulado interno 1º ano - gabarito

1 d
2 b
3 d
4 a

terça-feira, 4 de novembro de 2008

A hora de dizer "eu te amo"

DO AMOR E DOS SEUS PRONUNCIAMENTOS

Por Xico Sá

Amigo, se você é do tipo que diz “eu te amo” de uma forma, digamos assim, precoce e irresponsável, na afoiteza das primeiras e belas noites na alcova, como já tanto o fez este pusilânime cronista, prepare o seu coração pras coisas que eu vou contar, digo, “se liga”, como verbalizam os avexados mancebos da hora.

Se a gazela for safa,sábia, mal algum há em tal pronúncia, até apreciará o empolgante anúncio como uma poesia de fundo, como se uma música de Sérge Gainsbourg –Je t'aime moi non plus- estivesse tocando no quarto de motel barato àquela altura.

Pensará a moça, bem baixinho, “que doce vagabundo”. Terá sido apenas um pequeno crime, como num bolero, um “besame mucho”, um cha-cha-cha num Caribe imaginário, cortinas ao vento, lua caliente lá fora, barulho de caminhões no asfalto.

Sim, a gazela pode entender como um “eu te amo mesmo, de verdade, verdadeira, assim como Deus sobre todas as coisas”.

Que mal há nisso?

Quantos amores à vera começaram com um “eu te amo” de brincadeira?

Nesses tempos de amores líquidos, de amores ficantes, de amores-vinhetas de 15 segundos, quem saberá o que venha a ser o amor patenteado pelos deuses incas ou gregos?!

O melhor mesmo é dizer, sem medo, eu te amo, e honrá-lo pelo menos enquanto o sublime eco resistir entre aquelas abençoadas quatro paredes.

E se ela acreditar, ora, ora, manda um “eu te amo, meeeesssmmmoooo”.

Com olhinhos revirados, vamos mais fundo ainda: “Eu te amo até o fim dos tempos”.

Se ela não tá nem aí, você se vira para o piano e ordena, como no filme Casablanca, mesmo que estejam atravessando a avenida Afonso Penna em Belo Horizonte, seis horas da tarde, buzinaço, hora do ângelus: “play, again, Sam!”

E manda mais “eu te amo”, como um estribilho do vento, nas oiças da desalmada, até ela acostumar com a natureza humana do macho que veio ao mundo com um cowboy solitário que tem apenas um mantra, uma bala no coldre dos sentimentos: “eu te amo”.

Monocórdico sr. das sombras cujo cardiograma é um terremoto de “eu te amos”, como um sismógrafo nervoso a riscar o mostrador da maquininha que mede os tremores demasiadamente humanos de todos os cardiologistas particulares.

Antes um “serial lover” a dizer eu te amo como um cuco desembestado a um elíptico e silencioso cabra safado que guarda os “eu te amo” para a hora do chifre ou para a extrema-unção, como meu amigo “mucho macho” que morreu balbuciando, câmera lenta, para o padre Cristiano, lá em Santana do Cariri, muito tempo atrás: “padre, me perdoa, estou morrendo, creio, e nunca disse eu te amo!”. Donde a dúbia e indecifrável sentença guarda dúvida até hoje: “para quem seria aquele guardadíssimo eu te amo?”. Para o padre ou para o seu amor proibido?

Donde baixa um Esopo fabulador para deixar a moral da crônica: mais vale um “eu te amo” que entre por um ouvido e saia pelo outro do que um silêncio mortal de um homem que nunca se empolga e deixa a gazela achando que “eu te amo” é coisa só de novela e de filme americano.

sábado, 25 de outubro de 2008

Antes da inauguração, Bienal sofre ataques de "coladores" de "stickers"

Publicado na FSP - 25/10/08

Por: SARA UHELSKI
DA FOLHA ONLINE

O grupoArac, que se define como "um grupo independente de "coladores" de "stickers" [adesivos]", passou quatro horas anteontem no segundo andar do pavilhão da Bienal -que, por decisão da curadoria, foi deixado vazio nesta edição da mostra- fazendo intervenções nas paredes e nos pilares.
Os adesivos foram agrupados em quatro ou cinco e colados em 15 pontos do andar. São caveiras, borboletas e dentaduras, entre outros desenhos, que ficarão camuflados -eles ficarão escondidos sob folhas brancas e tinta até a abertura da mostra, que acontece hoje para convidados e amanhã para o público.
A ação está registrada no blog Bien-Mal 2008, que mostra fotos do procedimento e adianta alguma das imagens coladas.
Em conversa com a Folha Online, o organizador da intervenção, que não quis se identificar, afirmou que não considera o ato uma forma de vandalismo. "Considero uma obra de arte, uma conseqüência à proposta dos curadores de manter o segundo andar vazio."
Em entrevista coletiva realizada anteontem, a Fundação Bienal de São Paulo disse ter preparado um esquema antivandalismo.
"Acho ainda que os responsáveis pela Bienal vão entender e deixar os adesivos onde eles estão", completou o organizador da intervenção. Ele afirma ainda que o fato de a Bienal ser um evento gratuito e sem barreiras na entrada a caracteriza como um espaço urbano, que deve receber também expressões de arte urbanas.
Para continuar com a intervenção e incentivar outras pessoas a irem até a Bienal colar seus "stickers", o grupoArac criou o "Manual para a Invasão da Bienal".

"Sticker"
O "sticker" é um tipo de intervenção urbana, como o grafite, que ganhou as ruas de São Paulo, especialmente a região da rua Augusta, há cerca de quatro anos.
Feito de papel adesivo ou comum, os "stickers" trazem desenhos de seus autores e estão espalhados por outras metrópoles.

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

"Ensaio sobre a Cegueira"

Por : Contardo Calligaris

Publicado na Folha em 18/09/08

Gosto dos romances e dos filmes apocalípticos, ou seja, das histórias em que algum tipo de fim do mundo (guerra nuclear, invasão extraterrestre, epidemia etc.) nos força a encarar uma versão laica e íntima do Juízo Final. Nessa versão, Deus não avalia nosso passado, mas, enquanto o mundo desaba, nosso desempenho mostra quem somos realmente. No desamparo, quando o tecido social se esfarela e as normas perdem força e valor, conhecemos, enfim, nosso estofo "verdadeiro". Somos capazes do melhor ou do pior: o apocalipse nos testa e nos revela.O primeiro romance apocalíptico (de 1826) talvez tenha sido "O Último Homem" (ed. Landmark), de Mary Shelley, que é também a autora de "Frankenstein". De fato, as duas obras são animadas pelo mesmo sonho: uma criatura radicalmente nova pode ser fabricada no bricabraque de um necrotério ou nascer das cinzas da civilização. Em ambos os casos, ela será sem história, sem ascendência, sem comunidade e, portanto, penosamente livre - para o bem ou para o mal.No romance de Mary Shelley, aliás, a causa da catástrofe é uma epidemia, como na "Peste", de Camus, e como no "Ensaio sobre a Cegueira", de Saramago, que é agora levado para o cinema por Fernando Meirelles.A obra de Meirelles é fiel ao livro que a inspira, mas, para contar a mesma história, consegue inventar uma eloqüência própria, sutil e forte. Por exemplo, o filme banha numa luz esbranquiçada e difusa que não é apenas (como foi dito e repetido) uma evocação da cegueira branca que aflige a humanidade: é a atmosfera ordinária de nosso universo desbotado, em que a trivialidade do cotidiano desvanece os contrastes - até que as sombras e os brilhos sejam revelados na "hora do vamos ver", que acontece, paradoxalmente, porque todos (ou quase todos) perdem a visão.Depois de assistir ao filme, li algumas das críticas que ele recebeu em Cannes. A nota de Manohla Dargis, no "New York Times" de 16 de maio, por exemplo, é paradoxal: Dargis acusa o filme de ser uma Alegoria com "A" maiúscula, em que, aos personagens, faltaria espessura. Certo, os personagens de "Ensaio sobre a Cegueira" quase não têm história prévia, assim como a cidade em que os fatos acontecem (uma mistura de São Paulo com Toronto) é uma cidade moderna qualquer, cujas particularidades não contam. Essa, justamente, é a beleza do gênero: o surgimento quase abstrato de uma situação extrema, em que se trata de escolher e agir a partir de nada. O passado, o lugar não contam: os personagens são definidos por suas escolhas aqui e agora.Dargis também se queixa da oposição que lhe parece excessiva, no filme, entre "os bons" e "os ruins", ou seja, entre os que, na cegueira, descobrem e aprimoram sua humanidade e os que a perdem. É uma queixa curiosa, pois, em quase todas as narrativas apocalípticas, a contraposição de retidão e bestialidade é o sinal de uma liberdade quase absoluta, angustiante: o fim do mundo é um bívio sem leis, sem flechas, sem compromissos, onde qualquer um pode escolher o horror ou a esperança. A oposição caricata dos bons e dos ruins expressa a incerteza do espectador, do leitor e do autor: "Você, se, por uma misteriosa epidemia, o mundo ficar cego, se o reino da lei acabar e começar a idade da luta pela sobrevivência, de que lado estará? Do lado dos que inventarão novas formas de abusos ou dos que descobrirão novas formas de respeito e de vida comum? Uma vez perdida a visão, o que você enxergará no seu vizinho: mais uma mulher para estuprar e um otário para explorar ou um irmão, perdido que nem você?"No "Ensaio sobre a Cegueira" (de Meirelles e de Saramago), diferente do que acontece em muitas narrativas apocalípticas, a heroína é uma mulher, e as mulheres são as depositárias da esperança; elas saem engrandecidas pelas provas da situação extrema.São elas que, para o bem de todos, entregam-se aos estupradores, aviltando não elas mesmas mas os que as violentam, com uma coragem que salienta a covardia dos maridos ciumentos ou zelosos de sua "honra". São elas que sabem cuidar de uma criança ou matar quando é preciso. São elas que reinventam a amizade (em cenas memoráveis: a das mulheres lavando o corpo da companheira espancada à morte e a das mulheres no chuveiro).Aviso, caso, um dia, a gente tenha que recomeçar tudo do zero: em geral, as mulheres sabem, melhor do que os homens, o que é essencial na vida.

ccalligari@uol.com.br

"Ensaio sobre a Cegueira"

Gosto dos romances e dos filmes apocalípticos, ou seja, das histórias em que algum tipo de fim do mundo (guerra nuclear, invasão extraterrestre, epidemia etc.) nos força a encarar uma versão laica e íntima do Juízo Final. Nessa versão, Deus não avalia nosso passado, mas, enquanto o mundo desaba, nosso desempenho mostra quem somos realmente. No desamparo, quando o tecido social se esfarela e as normas perdem força e valor, conhecemos, enfim, nosso estofo "verdadeiro". Somos capazes do melhor ou do pior: o apocalipse nos testa e nos revela.
O primeiro romance apocalíptico (de 1826) talvez tenha sido "O Último Homem" (ed. Landmark), de Mary Shelley, que é também a autora de "Frankenstein". De fato, as duas obras são animadas pelo mesmo sonho: uma criatura radicalmente nova pode ser fabricada no bricabraque de um necrotério ou nascer das cinzas da civilização. Em ambos os casos, ela será sem história, sem ascendência, sem comunidade e, portanto, penosamente livre - para o bem ou para o mal.
No romance de Mary Shelley, aliás, a causa da catástrofe é uma epidemia, como na "Peste", de Camus, e como no "Ensaio sobre a Cegueira", de Saramago, que é agora levado para o cinema por Fernando Meirelles.
A obra de Meirelles é fiel ao livro que a inspira, mas, para contar a mesma história, consegue inventar uma eloqüência própria, sutil e forte. Por exemplo, o filme banha numa luz esbranquiçada e difusa que não é apenas (como foi dito e repetido) uma evocação da cegueira branca que aflige a humanidade: é a atmosfera ordinária de nosso universo desbotado, em que a trivialidade do cotidiano desvanece os contrastes - até que as sombras e os brilhos sejam revelados na "hora do vamos ver", que acontece, paradoxalmente, porque todos (ou quase todos) perdem a visão.
Depois de assistir ao filme, li algumas das críticas que ele recebeu em Cannes. A nota de Manohla Dargis, no "New York Times" de 16 de maio, por exemplo, é paradoxal: Dargis acusa o filme de ser uma Alegoria com "A" maiúscula, em que, aos personagens, faltaria espessura. Certo, os personagens de "Ensaio sobre a Cegueira" quase não têm história prévia, assim como a cidade em que os fatos acontecem (uma mistura de São Paulo com Toronto) é uma cidade moderna qualquer, cujas particularidades não contam. Essa, justamente, é a beleza do gênero: o surgimento quase abstrato de uma situação extrema, em que se trata de escolher e agir a partir de nada. O passado, o lugar não contam: os personagens são definidos por suas escolhas aqui e agora.
Dargis também se queixa da oposição que lhe parece excessiva, no filme, entre "os bons" e "os ruins", ou seja, entre os que, na cegueira, descobrem e aprimoram sua humanidade e os que a perdem. É uma queixa curiosa, pois, em quase todas as narrativas apocalípticas, a contraposição de retidão e bestialidade é o sinal de uma liberdade quase absoluta, angustiante: o fim do mundo é um bívio sem leis, sem flechas, sem compromissos, onde qualquer um pode escolher o horror ou a esperança. A oposição caricata dos bons e dos ruins expressa a incerteza do espectador, do leitor e do autor: "Você, se, por uma misteriosa epidemia, o mundo ficar cego, se o reino da lei acabar e começar a idade da luta pela sobrevivência, de que lado estará? Do lado dos que inventarão novas formas de abusos ou dos que descobrirão novas formas de respeito e de vida comum? Uma vez perdida a visão, o que você enxergará no seu vizinho: mais uma mulher para estuprar e um otário para explorar ou um irmão, perdido que nem você?"
No "Ensaio sobre a Cegueira" (de Meirelles e de Saramago), diferente do que acontece em muitas narrativas apocalípticas, a heroína é uma mulher, e as mulheres são as depositárias da esperança; elas saem engrandecidas pelas provas da situação extrema.
São elas que, para o bem de todos, entregam-se aos estupradores, aviltando não elas mesmas mas os que as violentam, com uma coragem que salienta a covardia dos maridos ciumentos ou zelosos de sua "honra". São elas que sabem cuidar de uma criança ou matar quando é preciso. São elas que reinventam a amizade (em cenas memoráveis: a das mulheres lavando o corpo da companheira espancada à morte e a das mulheres no chuveiro).
Aviso, caso, um dia, a gente tenha que recomeçar tudo do zero: em geral, as mulheres sabem, melhor do que os homens, o que é essencial na vida.
ccalligari@uol.com.br

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Encontro com Saramago em cinema de Lisboa

Publicado na Folha em 21/05/08

Por: FERNANDO MEIRELLES

Depois de uma semana que pareceu uma verdadeira montanha russa emocional, saí de Cannes no sábado e fui para Lisboa mostrar o filme "Ensaio sobre a Cegueira" para o autor da história, José Saramago. Por meses, antecipei o quanto a sessão me deixaria ansioso -e não estava errado. Infelizmente, o cine São Jorge, que nos foi reservado, não tinha projeção digital, então foi improvisado um sistema para passarmos nossa fita. Pensei em desistir de mostrar o filme ao ver um teste da projeção, mas o escritor já estava na sala de espera e, em respeito ao compromisso, achei melhor ir em frente. Sentei-me ao seu lado, expliquei aos poucos amigos presentes que só havia legendas em francês e começamos a ver o filme. Sofri cada vez que uma imagem não aparecia ou que uma música mal soava. Ele assistiu ao filme todo mudo e sem reação nenhuma. Ao final da sessão, quando os créditos começaram a subir, sua mulher, Pilar, debruçou-se sobre Saramago e me agradeceu, emocionada. Silêncio ao meu lado. Antes de terminar os créditos principais, as luzes do cinema foram acesas, eu ousei olhar para o lado e vi que ele fitava a tela sem reação, como se estivesse interessado no nome dos assistentes de cenografia que passavam. Deu tudo errado, pensei. Toquei seu braço levemente e lhe falei que ele não precisava comentar nada naquele momento, mas, então, com uma voz embargada, ele me disse, pausadamente: "Fernando, eu me sinto tão feliz hoje, ao terminar de ver este filme, como quando acabei de escrever "O Ensaio sobre a Cegueira'". Apenas agradeci e ficamos ali quietos. Dois marmanjos segurando as próprias lágrimas em silêncio. Ele passou a mão nos olhos, disfarçando a sua. Pensei no meu pai. Emoção sólida, dessas que se pode cortar em fatias com uma faca. Num impulso, beijei sua testa. Na conversa e no jantar que se seguiram, ele disse que não considera o filme um espelho de seu trabalho e que nem poderia ser assim, pois cada pessoa tem uma sensibilidade diferente. Disse ter gostado da experiência de ver algo que conhecia, mas que, ao mesmo tempo, não conhecia. Falou que o filme não era perfeito, mas que nunca havia assistido a um filme perfeito. Comentou algumas imagens que o emocionaram especialmente e disse ter achado o nosso Cão das Lágrimas muito doce; preferia que fosse mais agressivo. CríticasQuando lhe contei sobre as críticas favoráveis e contrárias ao filme em Cannes, incluindo a da Folha, ele imediatamente lembrou e recontou aquela historinha do velho que vem puxando um burro montado por uma criança. Um passante vê aquilo e acha absurdo a criança estar montada enquanto um velho caminha, então eles invertem a posição. Outro passante cruza com o grupo e reclama da situação: "Como um adulto deixa uma criança a pé enquanto vai confortavelmente montado?". Então, os dois montam no burro, mas alguém acha aquilo uma crueldade com um animal tão pequeno. Finalmente, resolvem ambos carregar o burro nas costas, até que outro passante observa como são estúpidos por carregar o animal. E, enfim, o velho decide voltar para a primeira situação e parar de dar importância ao que dizem. "É isso que faço sempre", concluiu o escritor. Acabo de deixar José Saramago e sua mulher no Ministério da Cultura de Portugal, onde está sendo exibida uma retrospectiva de seu trabalho e sua vida. Houve uma pequena coletiva de imprensa ali, depois de visitarmos juntos a exposição. Meu filminho de menos de duas horas me pareceu muito insignificante ao ser colocado ao lado daquela obra de uma vida inteira.


FERNANDO MEIRELLES é o diretor de "Ensaio sobre a Cegueira", "Cidade de Deus" (2002) e "O Jardineiro Fiel" (2005), entre outros

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Integração do bom senso

Por: Ciro Gomes
Publicado na Folha de São paulo em 20/09/05.

No Nordeste setentrional, a disponibilidade de água é menos da metade do que a Organização das Nações Unidas estabelece como mínima para a sustentabilidade da vida humana. Segundo a ONU, a vida é minimamente sustentável quando a disponibilidade hídrica é de 1.500 m3 por habitante/ano. Por causa disso, o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, sensatamente, decidiu viabilizar a execução de um projeto que há décadas tem sido só uma promessa -o Projeto São Francisco.
Para tanto, reviu propostas de governos anteriores, que previam a captação de até 300 m3/s, uma insensatez, e incluiu na nova concepção a revitalização do rio, hoje na centralidade do planejamento do governo e no seu PPA. O Projeto São Francisco não é de transposição, mas de integração de sua bacia com as bacias dos rios intermitentes do Nordeste setentrional. Seu claro objetivo é oferecer segurança hídrica a 12 milhões de pessoas que vivem nas pequenas, médias e grandes cidades dos Estados de Pernambuco, da Paraíba, do Rio Grande do Norte e do Ceará.Do ponto de vista da engenharia, o empreendimento é de fácil execução -dois canais a céu aberto revestidos de concreto, alguns túneis, algumas lagoas de retenção, algumas tomadas de água e estações elevatórias. Quando estiver em operação, captará, à jusante da barragem de Sobradinho, 26 m3/s, ou seja, 1,4% da vazão mínima que chega ao mar. Quando, e somente quando, Sobradinho estiver vertendo, o volume captado será ampliado para até 127 m3/ s. Nesses vertimentos, a vazão do rio chega a picos de até 15 mil m3/s, como aconteceu em 2004 -todo esse excedente vai adoçar o oceano. A água captada será transferida para açudes estratégicos, dos quais, por uma rede de adutoras já construídas ou em construção pelos Estados receptores, chegará às cidades.Em maio do ano passado, o presidente Lula baixou decreto considerando de utilidade pública, para efeito de desapropriação por interesse social, 2,5 km de terras nas duas margens dos eixos norte e leste do projeto. Isso quer dizer que, desde a data da publicação do decreto, estão proibidas a venda e a compra dessas terras, que serão utilizadas para projetos de assentamento do Programa de Reforma Agrária e para a agricultura familiar. Os menos favorecidos serão os mais beneficiados.Outra inovação do Projeto São Francisco é sua sinergia hídrica. No Nordeste, grande parte da água dos açudes se perde ou pela evaporação, nos anos secos, ou pelo vertimento, nos anos chuvosos. Essa perda deixará de existir, e a água dos açudes será aproveitada permanentemente em diferentes usos. Os reservatórios não precisarão mais permanecer cheios na expectativa de que o próximo ano será de seca. Quando eles forem recarregados pela água das chuvas, as bombas do projeto serão desligadas, sendo religadas nos anos secos.Para impedir conflito de interesses, para assegurar o fiel cumprimento dos limites da outorga de uso da água e para garantir a plena eficiência do seu sistema de geração de energia elétrica, será, por decisão do presidente Lula, uma subsidiária da própria Companhia Hidrelétrica do São Francisco (Chesf), a ser criada com essa exclusiva finalidade, a responsável pela operação do projeto São Francisco.A revitalização do São Francisco, consenso oco até o início deste governo, começou, e seu foco é o saneamento básico e a recomposição das matas ciliares. Estão em execução ou em fase de contratação projetos de tratamento de esgotos beneficiando mais de duas dezenas de cidades que hoje os despejam, "in natura", na calha do rio. Os primeiros canteiros de mudas para a reposição de matas ciliares estão produzindo.O que o São Francisco doará para o semi-árido setentrional é apenas 1,4% da vazão mínima que ele hoje joga no mar. É quase nada, se comparado aos mais de 60% que o rio Piracicaba manda para o abastecimento da cidade de São Paulo; aos cerca de 60% que o rio Paraíba do Sul desvia para o abastecimento do Rio de Janeiro; aos 50% que o rio Tajo doa à Espanha antes de entrar, com o nome de Tejo, em Portugal, onde deságua no oceano Atlântico.O Projeto São Francisco é um empreendimento economicamente viável, socialmente justo e ambientalmente sustentável. Para blindá-lo contra a mínima suspeição, solicitei, por determinação do presidente Lula, ao Tribunal de Contas da União a análise e o acompanhamento técnico, especializado, de todo o seu processo licitatório. As recomendações do TCU foram acolhidas e incluídas no edital.O projeto foi aprovado pelo Conselho Nacional de Recursos Hídricos, licenciado pelo Ibama e dispõe de outorga da ANA. Sua concepção atual, fruto também da parte bem intencionada das críticas que recebeu, mudará a vida de 12 milhões de nordestinos, como regra pobres, sem prejudicar um único brasileiro. É também a experiência de integração mais segura entre todas as observadas no mundo por duas razões: o ínfimo volume captado (apenas 1,4%) e o ponto de captação, situado num trecho onde o rio é totalmente regularizado, entre as barragens da Chesf.


Ciro Gomes, 47, advogado, filiado ao PSB, é ministro da Integração Nacional. Foi prefeito de Fortaleza (1988-90), governador do Ceará (1991-94) e ministro da Fazenda (governo Itamar).

Vida para todos: por isso fiz a greve de fome

Por: D. Luiz Flávio Cappio
Publicado na Folha de São paulo em 10/10/05.


Foi em favor da vida que fiquei 11 dias em jejum e oração na tão querida capelinha de São Sebastião, em Cabrobó (PE). Motivou-me o compromisso, baseado no Evangelho, que tenho com os pobres, os do rio São Francisco em primeiro lugar, porque me são mais próximos, há mais de 30 anos, por opção de franciscano, sacerdote e bispo desde 1997. Compromisso com a vida do próprio rio São Francisco, tão degradado."Rio vivo, povo vivo. Rio morto, povo morto", gritamos milhares de vezes na peregrinação da nascente à foz do São Francisco, entre outubro de 1993 e outubro de 1994. Vida ameaçada pelo atual projeto de transposição. Mas meu compromisso é também com a vida de toda a população do semi-árido, principalmente a dos mais pobres, enganados com tal projeto.Era essa minha intenção, bastante clara na declaração "que todos tenham vida", que fiz depois de longo debate, no acordo que me levou a suspender o jejum e que celebrei com o ministro Jaques Wagner, em nome e com o assentimento do presidente Lula: "permitir uma ampla discussão, participativa, verdadeira e transparente para que se chegue a um plano de desenvolvimento sustentável, baseado na convivência com todo o semi-árido, para o bem de sua população, priorizando os mais pobres. (...) que, através desse amplo debate, cheguemos a soluções que promovam a união e a concórdia para o povo brasileiro, especialmente para os irmãos e irmãs do semi-árido".Portanto não basta dizer "não" à transposição. Não basta só a revitalização do rio. É preciso um plano de desenvolvimento verdadeiramente sustentável, que beneficie toda a população do semi-árido, tanto os que estão próximos do rio como os que estão longe dele. Um bom plano exige que se pense o semi-árido em toda sua extensão, do norte de Minas ao Ceará, do agreste pernambucano ao Maranhão, com toda sua diversidade geográfica, social e ambiental. São aproximadamente um milhão de km2 e 30 milhões de pessoas.Os mais pobres estão nas cidades, mas formam quase toda população rural, espalhada por todo o território. São os que quase não têm terra, bebem águas podres de barreiros e de açudes, não têm a mínima infra-estrutura para enfrentar o clima do semi-árido e estariam fora do projeto de transposição. Pobres que estão não muito distantes do próprio rio São Francisco. Estes devem ser prioritários para o investimento público no semi-árido. Portanto é não só uma questão técnica mas ética.A transposição se colocou como um "fantasma" que não permite uma visão ampla do semi-árido, pois absorve mentes, energias e recursos, como se abrangesse o todo e fosse a salvação para todos. Ela abrangeria apenas 5% do semi-árido brasileiro e beneficiaria 0,23% da população do Nordeste, segundo críticos.Será, na verdade, mais problema para a população do campo e da cidade, uma vez que elevará o custo da água disponível e estabelecerá o mercado da água. Não vai redimir o Nordeste, como apregoam seus promotores. Tenta-se justificar, equivocadamente, um Nordeste setentrional separado do todo.Pensando o semi-árido como um todo, poderemos conferir exatamente qual poderia ser ou não a utilidade e a necessidade de uma obra de tamanho gasto público, para um país endividado como o nosso, e de tanto risco social e ambiental.É preciso pensar também o rio. Cortado por barragens, desmatado por carvoarias, poluído por esgotos e agrotóxicos, assoreado em toda a sua extensão, o São Francisco pede alento, um pouco de paz e um pouco de sossego para recuperar a vitalidade. Pede investimento. E suspensão dos projetos degradantes. Não há verdadeira revitalização se continuar a degradação dos solos, da vegetação e das águas da bacia, como nos cerrados do oeste baiano.É preciso respeitar também sua população, que suporta o ônus de todos os projetos impostos à grande bacia. Aqui também mora gente que merece consideração e respeito.Busquemos um plano que una novamente a nação nordestina. A transposição nos divide. A revitalização do São Francisco e do semi-árido nos une.Quando iniciei o jejum, declarei que, "quando a razão se extingue, a loucura é o caminho". Fico feliz que meu gesto, suas razões e sua "loucura" tenham sido compreendidos e apoiados por tanta gente. Agradeço sinceramente. Tenho rezado por todos. Não me canso de louvar a Deus por tanta graça recebida."Eu vim para que todos tenham vida e a tenham em abundância" (João, 10, 10).Fiz dessas palavras centrais do Evangelho meu lema de bispo. Só quis ser fiel a ela, com a radicalidade que a questão exigia. E voltarei ao jejum e a oração, com mais determinação ainda, se o acordo firmado, em confiança, com o governo não for cumprido. E sei que não estarei sozinho.


Dom frei Luiz Flávio Cappio, 59, é bispo diocesano da cidade de Barra (BA) e autor do livro "Rio São Francisco, uma caminhada entre vida e morte" (editora Vozes, 1995).

Entendendo a crise americana 2

O seu Biu tem um bar, na Vila Carrapato, e decide que vai vender cachaça ‘na caderneta’ aos seus leais fregueses, todos bêbados, quase todos desempregados.
Porque decide vender a crédito, ele pode aumentar um pouquinho o preço da dose da branquinha (a diferença é o sobrepreço que os pinguços pagam pelo crédito).
O gerente do banco do seu Biu, um ousado administrador formado em curso de ‘emibiêi’, decide que as cadernetas das dívidas do bar constituem, afinal, um ativo recebível, e começa a adiantar dinheiro ao estabelecimento tendo o pindura dos pinguços como garantia.
Uns seis ‘zécutivos’ de bancos, mais adiante, lastreiam os tais recebíveis do banco, e os transformam em CDB, CDO, CCD, UTI, OVNI, SOS ou qualquer outro acrônimo financeiro que ninguém sabe exatamente o que quer dizer.
Esses adicionais instrumentos financeiros alavancam o mercado de capitais e conduzem a operações estruturadas de derivativos na BM&F, cujo lastro inicial todo mundo desconhece (as tais cadernetas do seu Biu).
Esses derivativos estão sendo negociados como se fossem títulos sérios, com fortes garantias reais, nos mercados de 73 países.
Até que alguém descobre que os bebuns da Vila Carrapato não têm dinheiro para pagar as contas, e o Bar do seu Biu vai à falência. E toda a cadeia desmorona.

Entendendo a crise americana

Sampleado dos comentários do surra.org

Paul comprou um apartamento, no começo dos anos 90, por 300.000 dólares
financiado em 30 anos. Em 2006 o apartamento do Paul passou a valer 1,1 milhão de dólares. Aí, um banco perguntou pro Paul se ele não queria uma grana emprestada, algo como 800.000 dólares, dando seu apartamento como garantia. Ele aceitou o empréstimo, fez uma nova hipoteca e pegou os 800.000 dólares.
Com os 800.000 dólares. Paul, vendo que imóveis não paravam de valorizar,
comprou 3 casas em construção dando como entrada algo como 400.000 dólares. A diferença, 400.000 dólares que Paul recebeu do banco, ele se comprometeu: comprou carro novo (alemão) pra ele, deu um carro (japonês) para cada filho e com o resto do dinheiro comprou tv de plasma de 63 polegadas, 43 notebooks, 1634 cuecas. Tudo financiado, tudo a crédito. A esposa do Paul, sentindo-se rica, sentou o dedo no cartão de crédito.
Em agosto de 2007 começaram a correr boatos que os preços dos imóveis estavam caindo. As casas que o Paul tinha dado entrada e estavam em construção caíram vertiginosamente de preço e não tinham mais liquidez...
O negócio era refinanciar a própria casa, usar o dinheiro para comprar outras casas e revender com lucro. Fácil....parecia fácil. Só que todo mundo teve a mesma idéia ao mesmo tempo. As taxas que o Paul pagava começaram a subir (as taxas eram pós fixadas) e o Paul percebeu que seu investimento em imóveis se transformara num desastre.

Milhões tiveram a mesma idéia do Paul. Tinha casa pra vender como nunca.
Paul foi agüentando as prestações da sua casa refinanciada, mais as das 3 casas que ele comprou, como milhões de compatriotas, para revender, mais as prestações dos carros, as das cuecas, dos notebooks, da tv de plasma e do cartão de crédito.

Aí as casas que o Paul comprou para revender ficaram prontas e ele tinha que pagar uma grande parcela. Só que neste momento Paul achava que já teria revendido as 3 casas mas, ou não havia compradores ou os que havia só pagariam um preço muito menor que o Paul havia pago. Paul se danou. Começou a não pagar aos bancos as hipotecas da casa que ele morava e das 3 casas que ele havia comprado como investimento. Os bancos ficaram sem receber de milhões de especuladores iguais a Paul.

Paul optou pela sobrevivência da família e tentou renegociar com os bancos que não quiseram acordo. Paul entregou aos bancos as 3 casas que comprou como investimento perdendo tudo que tinha investido. Paul quebrou. Ele e sua família pararam de consumir...

Milhões de Pauls deixaram de pagar aos bancos os empréstimos que haviam feito baseado nos preços dos imóveis. Os bancos haviam transformado os empréstimos de milhões de Pauls em títulos negociáveis. Esses títulos passaram a ser negociados com valor de face. Com a inadimplência dos Pauls esses títulos começaram a valer pó.

Bilhões e bilhões em títulos passaram a nada valer e esses títulos estavam disseminados por todo o mercado, principalmente nos bancos americanos, mas também em bancos europeus e asiáticos.

Os imóveis eram as garantias dos empréstimos, mas esses empréstimos foram feitos baseados num preço de mercado desse imóvel... Preço que despencou. Um empréstimo foi feito baseado num imóvel avaliado em 500.000 dólares e de repente passou a valer 300.000 dólares e mesmo pelos 300.000 não havia compradores.

Os preços dos imóveis eram uma bolha, um ciclo que não se sustentava, como os esquemas de pirâmide, especulação pura. A inadimplência dos milhões de Pauls atingiu fortemente os bancos americanos que perderam centenas de bilhões de dólares. A farra do crédito fácil um dia acaba. Acabou.

Com a inadimplência dos milhões de Pauls, os bancos pararam de emprestar por medo de não receber. Os Pauls pararam de consumir porque não tinham crédito. Mesmo quem não devia dinheiro não conseguia crédito nos bancos e quem tinha crédito não queria dinheiro emprestado.

O medo de perder o emprego fez a economia travar. Recessão é sentimento, é medo. Mesmo quem pode, pára de consumir.

O FED começou a trabalhar de forma árdua, reduzindo fortemente as taxas de juros e as taxas de empréstimo interbancários. O FED também começou a injetar bilhões de dólares no mercado, provendo liquidez. O governo Bush lançou um plano de ajuda à economia sob forma de devolução de parte do imposto de renda pago, visando incrementar o consumo porém essas ações levam meses para surtir efeitos práticos. Essas ações foram corretas e, até agora não é possível afirmar que os EUA estão tecnicamente em recessão.
O FED trabalhava. O mercado ficava atento e as famílias esperançosas. Até que na semana passada o impensável aconteceu. O pior pesadelo para uma economia aconteceu: a crise bancária, correntistas correndo para sacar suas economias, boataria geral, pânico. Um dos grandes bancos da América, o Bear Stearns, amanheceu, na segunda feira última, quebrado, insolvente.

No domingo o FED, de forma inédita, fez um empréstimo ao Bear, apoiado pelo JP Morgan Chase, para que o banco não quebrasse. Depois disso o Bear foi vendido para o JP Morgan por 2 dólares por ação. Há um ano elas valiam 160 dólares. Durante esta semana dezenas de boatos voltaram a acontecer sobre quebra de bancos. A bola da vez seria o Lehman Brothers, um bancão. O mercado e as pessoas seguem sem saber o que nos espera na próxima segunda-feira.

O que começou com o Paul hoje afeta o mundo inteiro. A coisa pode estar apenas começando. Só o tempo dirá.

No dia 15 de Setembro/2008, o Lehman Brothers pediu falencia,
desempregando mais de 26 mil pessoas e provocando uma queda de mais de 500 (quinhentos ) pontos no Indice Dow Jones, que mede o valor ponderado das acoes das 30 maiores empresas negociadas na Bolsa de Valores de New York - a maior queda em um unico dia, desde a quebra de 1929 ...
Este dia, certamente, será lembrado para sempre na historia do capitalismo.

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Entrevista - Renata Falcone

Renata Falcone Capistrano da Silva,23 anos, é assessora Jurídica. Formada na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco – USP.

FdM: Como foi que você escolheu fazer o curso que fez?

R.F.: No colégio, sempre tive maior afinidade com a área de biológicas, porém, no momento de escolher uma carreira, a possibilidade de um futuro profissional estável teve grande peso. Claro que a satisfação pessoal também foi muito importante na escolha, o que me levou ao curso de Direito, cujo leque de possibilidades de atuação após a graduação é imenso. Assim, eu, que sempre me interessei por Biologia, poderia trabalhar com Biodireito ou Direito Ambiental. Além disso, há possibilidade de dedicação à pesquisa, ao magistério, à prática da advocacia, a concursos públicos, entre outras. Enfim, essa área comporta todos os tipos de talentos e afinidades. É muito raro alguém que não encontre uma área de interesse dentro do mundo jurídico.

FdM: Qual foi seu primeiro emprego na área e o que fazia?

R.F.: Minha primeira experiência profissional foi um estágio voluntário no Ministério Público do Estado de São Paulo, na Promotoria de Meio Ambiente. Basicamente, eu auxiliava o Promotor na condução de Inquéritos Civis Públicos, em que se investigava a ocorrência de um dano ambiental e as medidas de reparação desse dano pelos responsáveis. Eu realizava o mesmo trabalho que os estagiários concursados, porém, sem receber dinheiro. Em compensação, o aprendizado foi enorme.

FdM: E daí como chegou onde está hoje?

R.F.: Esse meu primeiro estágio me fez perceber que gostava muito da atuação do Ministério Público na defesa dos direitos difusos da sociedade. Achei muito interessante a existência de uma Instituição responsável por tutelar os direitos que, justamente por pertencerem a todos, indistintamente, muitas vezes, ficam desamparados. Assim, fui em busca de estágios nesse campo e prestei concurso no Ministério Público do Trabalho, onde atuei como estagiária por dois anos. Dentro do MPT passei por algumas áreas e terminei por estagiar no gabinete da Procuradora-Chefe, que me convidou para ocupar um cargo de sua confiança – Assessora Jurídica, após a conclusão da minha graduação, já que este cargo é privativo de bacharéis em Direito. Fiquei como estagiária até dezembro e em janeiro já estava na Assessoria Jurídica.

FdM: Conte como é sua rotina de trabalho (o que faz, que horas acorda, que roupa usa...)

R.F.: Eu trabalho das 8:00h às 17:00h, com controle de ponto, em um edifício tipo escritório e no computador na maior parte do tempo. Meu trabalho é produzir pareceres em processos judiciais e administrativos, além de realizar pesquisas e auxiliar a Procuradora-Chefe em questões jurídicas. O ambiente de trabalho requer o uso de trajes sociais.

FdM: O que você mais gosta no seu trabalho? E o que mais se orgulha?

R.F.: O que mais gosto no meu trabalho é a oportunidade de estar sempre estudando e crescendo intelectualmente. Cada processo é diferente do outro e cada caso tem suas peculiaridades, que demandam conhecimentos específicos. Isso impõe a constante realização de pesquisas e de aprofundamento de conhecimentos, que terminam por ampliar cada vez mais o universo do saber. Além disso, a convivência com pessoas altamente gabaritadas, como os Procuradores e os outros Assessores com quem trabalho, é extremamente estimulante.
Meu maior orgulho é participar de uma Instituição que, como já disse anteriormente, cuida da tutela dos direitos coletivos e difusos, o que reflete em benefícios a toda a sociedade. Sinto que meu trabalho ajuda na construção de um país melhor, com menos desigualdades e maior respeito à dignidade das pessoas.

FdM: O que você menos gosta no seu trabalho?

R.F.: Toda moeda tem seus dois lados. Ao tentar fazer Justiça, que acredito ser o objetivo de todos os operadores do Direito, tem-se que lidar diariamente com injustiças. Por exemplo, faz parte da minha rotina trabalhar com precatórios, que são procedimentos destinados ao pagamento das condenações judiciais do Estado. Ocorre que o Estado (em todas as esferas da Federação) costuma ser um mau pagador e impõe às pessoas a quem deve anos de espera até que possam receber seus direitos. Não são raros precatórios trabalhistas referentes a ações da década de 1980 que ainda não foram pagos, sem nenhuma previsão de que isso ocorra em breve. Isso que dizer que o trabalhador que prestou serviços ao Estado está a quase trinta anos esperando para receber verbas decorrentes de seu contrato de trabalho, cuja natureza é alimentar. Lidar com situações deste tipo, diariamente, é bastante frustrante.

FdM: E na Faculdade, o que mais gostava e o que menos gostava?

R.F.: É difícil dizer o que mais gostava na faculdade, pois adorava tudo. O ambiente acadêmico é muito rico em contatos e experiências que levamos para toda a vida. Os professores são pessoas de vastíssimo conhecimento em suas áreas de atuação, afinal, passar em um concurso para dar aulas na São Francisco não é nada fácil. É certo que alguns se mostravam um pouco desinteressados, mas o contato com eles sempre foi uma experiência enriquecedora. Além disso, os próprios alunos também são pessoas muito capacitadas intelectualmente e com ideologias, pontos de vista e experiências muito diferentes, o que possibilitava os mais diversos debates, sobre todos os assuntos. E, é claro, adorava as festas, os trotes, os penduras, os jogos e as peruadas, que são parte muito importante na formação de um franciscano, condição que, uma vez adquirida, leva-se para toda a vida, no coração.
Acho que o que menos gostava eram as apresentações seminários em que alguns poucos alunos expunham parte da matéria para o resto da turma. Achava essas exposições contraproducentes, já que o nível de atenção despendido pelos ouvintes era quase nulo.

FdM: O que um jovem que queira seguir uma carreira como a sua precisa ter?

R.F.: Acredito que o mais importante seja a curiosidade, a capacidade de interessar-se pelos mais diversos assuntos, já que nunca se sabe qual o tipo de conhecimento que alguma causa vai requerer. É preciso não ter medo de muito estudo e muita leitura. Além disso, também é importante ter a capacidade de colocar-se no lugar do outro, pois, somente assim, é possível defender uma causa com paixão, o que é requisito essencial para a boa prática do Direito.

Lembrete: Se quiser fazer outras perguntas para ela deixe nos comentários de Fome de Mundo. Esse blog é uma base de links e tem seus comentários fechados.

Entrevista - Claudio Teixeira de Queiroz

Claudio Marcos Teixeira de Queiroz, 34 anos, é pesquisador, biomédico formado pela Unifesp com mestrado em Farmacologia e doutorado em Neurociências. Estudando/trabalhando já morou em Barcelona, atualmente reside em Amsterdã e está de mudança para Natal-RN.

FdM:Como foi que você escolheu fazer o curso que fez?

R: Parcialmente por acidente. Na época, pensei em prestar para Medicina (por causa da influência de meu pai, médico), História (por causa de um professor especialista em 2ª. Guerra Mundial) ou Música (por causa de uma banda de Heavy Metal da qual fazia parte). No último momento, minha namorada na época encontrou o curso de Biomedicina da Unifesp, descrito como uma profissão multidisciplinar e com grande enfoque em investigação científica. Preenchi o código do curso na mesa da inscrição da FUVEST sem saber exatamente o que aquela escolha realmente implicava. Felizmente a escolha do curso deu certo, não minha relação com a namorada.

FdM: Qual foi seu primeiro emprego na área e o que fazia?

R: Na carreira de pesquisador, a distinção entre emprego e estudo não é tão simples quanto para outras profissões. Digamos que minha primeira “recompensa financeira” apareceu quando estava no 3º ano da faculdade, quando recebi uma bolsa de Iniciação Científica. Depois da graduação, seguiram-se a bolsa para a realização do mestrado e depois do doutorado. De acordo com a legislação brasileira, bolsista é estudante e não um profissional (na maioria dos países europeus, os pós-graduandos são considerados profissionais, com todos os direitos trabalhistas assegurados). Durante o meu mestrado estudei os efeitos de drogas psicotrópicas no tratamento da esquizofrenia e durante meu doutorado, os mecanismos desencadeadores das epilepsias.

FdM: E daí como chegou onde está hoje?

R: Após terminar meu doutorado, busquei me inserir em alguns dos laboratórios de pesquisa acadêmica no Brasil. Visitei universidades (que são 99% das Instituições que fazem pesquisa no país) em Santa Maria (RS), Belo Horizonte (MG), Natal (RN) e São Paulo, cidade onde realizei os meus estudos. Problemas de origem política, acadêmica, pessoal e financeira acabaram me “empurrando” para o exterior (Amsterdam, Holanda), onde recebi uma proposta para trabalhar como pesquisador e onde estou no momento.

FdM: Conte como é sua rotina de trabalho (o que faz, que horas acorda, que roupa usa...)

R: A vida de pesquisador, no meu ponto de vista, é muito boa. Entretanto, convém ressaltar que muitos pesquisadores talvez tenham uma rotina de trabalho bastante diferente da minha. Ao contrário das outras profissões, meu trabalho me pertence, ou seja, o principal beneficiário de minha “mais valia” sou eu mesmo. Por isso, minha rotina é extremamente flexível. Levanto-me a hora que quero e trabalho o quanto quero. Não existe um código de vestuário e me visto de acordo com o clima. Minha rotina divide-se diferentemente ao longo do ano, consistindo basicamente da realização de experimentos, análise dos resultados e discussão em grupo, redação de manuscritos e apresentações em congressos e conferências. Apesar da grande liberdade de rotina, dificilmente trabalho menos de 10 horas por dia, todos os dias da semana. Por isso, costumo dizer que ser pesquisador não é uma profissão e sim um estado de espírito.

FdM: O que você mais gosta no seu trabalho? E o que mais se orgulha?

R: Fazer experimentos e descobrir coisas são seguramente os momentos mais preciosos do meu trabalho. Participar de congressos e conferências também é ótimo, pois é uma maneira de você conhecer o mundo e interagir com pessoas de diferentes culturas, uma vez que a linguagem da ciência é universal. Perceber que suas descobertas estão contribuindo para o desenvolvimento do conhecimento da humanidade é gratificante e ajuda a lustrar o ego. Entretanto, a idéia de contribuir para a melhoria na qualidade de vida de pessoas que sofrem com neuropatologias (em especial, as epilepsias) me parece um sonho digno de uma vida.

FdM: O que você menos gosta no seu trabalho?

R: O trabalho burocrático que sempre vem acompanhado de processo investigativo.

FdM: E na Faculdade, o que mais gostava e o que menos gostava?

R: O curso de Biomedicina na década de 90 era um curso bastante elitista, no sentido de que éramos poucos em classe (apenas 15) e tínhamos um envolvimento bastante íntimo com todos os professores das diferentes disciplinas. Isso possibilitou uma interação intensa e muito prazerosa entre todos, e muitas vezes tínhamos discussões sobre ciência e natureza, religião e sociedade, vida fora da terra e vida microscópica, tanto na sala de aula como na mesa do bar. Especialmente as aulas práticas de anatomia comparada (que era dada em um laboratório muito antigo cheio de animais empalhados), histologia (onde aprendi sobre o mundo microscópico), ecologia e evolução e biofísica (quando entendi porque o céu é azul) são as mais vívidas na minha memória hoje. Não gostava das avaliações e algumas disciplinas, que apesar de importantes para a minha formação, não me motivavam suficientemente.

FdM: O que um jovem que queira seguir uma carreira como a sua precisa ter?

R: Curiosidade e determinação. Se maravilhar com a natureza é relativamente fácil (quem já foi a Chapada Diamantina, ou assistiu documentários sobre a natureza sabe do que eu estou falando) e por esse motivo é muito fácil “se perder” na ciência. Por isso, acredito ser fundamental saber fazer as perguntas certas para obter respostas que sirvam para alguma coisa, caso contrário o cientista corre o risco de progressivamente se isolar em sua torre de marfim, se distanciando da sociedade e por fim da própria realidade por ele estudada.


Lembrete: Se quiser fazer outras perguntas para ele deixe nos comentários de Fome de Mundo. Esse blog é uma base de links e tem seus comentários fechados.

Entrevista - Victor Ramos

Victor Ramos 32 anos e é chefe de pauta do caderno Cotidiano da Folha de S. Paulo.
Formado em jornalismo na PUC-SP também fez 3 anos do curso de Direito, também na PUC.


FdM: Como foi que você escolheu fazer o curso que fez?

V.R.: Não houve exatamente uma escolha minha pelo jornalismo. A minha opção sempre foi pela área de humanas. Decidi fazer o curso de Jornalismo depois de ter abandonado o Direito. Achei que seria uma profissão que lida com texto e questões relacionadas à área de humanas, como o Direito, mas sem o formalismo deste. E só tive a certeza de que seguiria na carreira depois de arrumar um emprego “de verdade” na Folha, já aos 27 anos. De qualquer forma, o que causou meu interesse pela área foi o hábito de ler jornais. Por muito tempo, já trabalhando na Folha, me senti muito mais um leitor do jornal do que um “produtor” dele. A verdade é que um bom leitor de jornal tem uma boa chance de ser, também, um bom jornalista.

FdM: Qual foi seu primeiro emprego na área e o que fazia?

V.R.: Meu primeiro emprego em algo próximo do que se possa chamar de jornalismo foi na Santa TV, uma produtora. Lá eu pesquisava e escrevia para um site sobre cultura e futebol que pouco ficou no ar. Mas, como sabemos, cultura e futebol nunca são demais.

FdM: E daí como chegou onde está hoje?

V.R.: Depois de decidir tardiamente cursar Jornalismo, já com vinte e tantos anos, fiz a prova para entrar no programa de trainees da Folha. O programa ensina, durante 3 meses, como é o trabalho em um jornal diário, mais especificamente na Folha. Saí do programa e fui para a Redação, onde passei pelas editorias de Esporte, Agência e Cotidiano como repórter. Depois fui redator por cerca de um ano e meio. E, há pouco tempo, trabalho como chefe de pauta. Trabalho na Folha há quase 5 anos.

FdM: Conte como é sua rotina de trabalho (o que faz, que horas acorda, que roupa usa...)

V.R.: Vou começar a resposta pela roupa. Não há a necessidade de usar terno e gravata sempre. Para quem, como eu, não gosta de usar terno todos os dias, isso faz uma bela diferença. Minha rotina, hoje, é a seguinte: acordo por volta das 6:30 para saber o que aconteceu, via TVs, onlines, e pela Ronda da Folha, o que ocorreu na última madrugada. Por volta das 8 horas chego na Redação, para preparar a pauta do dia. Ou seja, começar a definir quais são as nossas principais apostas do dia, quais são as reportagens que têm maiores chances de ser a capa da edição do dia seguinte e as reportagens que irão para o alto das páginas internas. Durante o dia, tenho reuniões com a chefia do jornal e com a chefia da editoria de Cotidiano, onde as prioridades do dia são discutidas, para que se defina qual a abordagem deverá ser feita sobre cada tema. Os pedidos são encaminhados para os repórteres, com quem mantenho contato permanente para saber sobre o andamento das pautas.

FdM: O que você mais gosta no seu trabalho? E o que mais se orgulha?

V.R.: De colaborar com a produção de uma boa edição. Com matérias importantes para o dia a dia da cidade e que sejam, também, curiosas, boas de serem lidas.

FdM: O que você menos gosta no seu trabalho?

V.R.: É um trabalho que demanda muito tempo e muita energia. É da profissão a necessidade de trabalhar em alguns finais de semana, muitos feriados etc. E a pressão também costuma ser grande. Optar por essa carreira é também optar por isso.

FdM: E na Faculdade, o que mais gostava e o que menos gostava?

V.R.: Gostava principalmente dos cursos que apresentaram textos e livros importantes para o jornalismo. A parte prática eu achei fraca.

FdM: O que um jovem que queira seguir uma carreira como a sua precisa ter?

V.R.: Precisa ter gosto pela leitura. Jornalista tem que saber escrever. E tem que saber ler. Tem que ter gosto pela informação. Tem que saber se informar para poder informar os outros. Precisa ter responsabilidade, pois a publicação de uma informação tem reflexo na vida das pessoas. Precisa ter interesse pelos vários aspectos de um acontecimento. Se você for de esquerda, procure saber o que pensa a direita. E vice-versa. Quanto mais sólida for sua formação, mais consistente será a informação que você fará chegar ao público.



Lembrete: Se quiser fazer outras perguntas para ele deixe nos comentários de Fome de Mundo. Esse blog é uma base de links e tem seus comentários fechados.

terça-feira, 8 de julho de 2008

US$ 40 bilhões desperdiçados em Pequim

Publicado no Blog do Raul na China - 28/06/08

Nos últimos sete anos, Pequim gastou 40 bilhões de dólares na preparação de sua Olimpíada, em agosto. Com esse dinheiro, qualquer prefeito talentoso no mundo teria criado algo parecido a uma cidade dos sonhos. Nada mais distante disso que Pequim. Permanentemente poluída e congestionada, é um tormento para seus habitantes.
Mas os turistas vão encontrar durante os Jogos uma Pequim de mentirinha, graças a um rodízio radical. De 20 de julho a 20 de setembro, metade dos carros ficarão na garagem por decreto. Um dia circulam os carros com placas de final par, outro para as de final ímpar. Pobres das milhões de pessoas que precisarão recorrer ao metrô e aos ônibus locais, onde até sardinha enlatada sofre claustrofobia. Ao fim dos Jogos, volta a poluição. Há um mês, em pleno verão, o sol é encoberto pela redoma de fumaça.
A capital chinesa destruiu boa parte do patrimônio histórico que lhe restava e deu ordem de despejo a um milhão de pessoas em sete anos. Construiu condomínios fechados, 80 shopping centers, quarteirões enormes, daqueles que só corredores de longas distâncias conseguem contornar. E dezenas de minhocões e vias expressas. Pedestres e ciclistas sofrem uma corrida de obstáculos para se locomover. Uma metrópole malufista, enfim. Com 5 mil anos de história e um governo cheio de dinheiro, é decepcionante ver o tipo de capital que os chineses ergueram, repetindo as mesmas deficiências da pobre e comparativamente novata São Paulo.
FAVELAS E MAQUIAGEM
De última hora, a cidade está ganhando desajeitadas floreiras em seus minhocões e vias expressas, e decrépitos conjuntos habitacionais da época comunista ganharam uma pintura. Pequim continua com um terço de seus moradores vivendo de forma irregular. Há favelas de todos os tipos _ de barracos sem janela onde oito pessoas dormem em um cômodo aos velhos cortiços, onde só há banheiros coletivos na rua _ os moradores defecam à vista de quem espera sua vez.
Também há favelas invisíveis, que abrigam os pedreiros da construção civil e os empregados de grandes centros comerciais, migrantes que vêm da zona rural, e que moram nos subterrâneos de seus empregos para facilitar as jornadas de 12 horas de trabalho. Milhares deles serão mandados de volta a suas províncias natais durante os Jogos. Pela legislação chinesa, que controla o movimento interno, o cidadão precisa morar onde é registrado. Esses retirantes estão ilegalmente nas cidades, e o governo permite essas migrações apenas quando a mão de obra barata é necessária. A maquiagem olímpica também é humana e os mais pobres não foram convidados à festa.
Boa parte das poderosas imagens da Olimpíada se devem a dois espetaculares edifícios recém-construídos, o Estádio Olímpico, dos arquitetos suíços Herzog e De Meuron, e o ginásio aquático, obra de um escritório australiano. São dois entre os raros gols a favor na gastança olímpica. No Brasil, certamente arquitetos sem talento queimariam as pranchetas em protesto contra estrangeiros desenhando obras únicas. A China engoliu seu nacionalismo e trouxe de fora os melhores para construir os ícones dos Jogos.
Mas como a prática esportiva ainda é mínima no país, onde produzir medalha é prioridade, os novos estádios devem se tornar elefantes brancos muito breve. Mais ou menos como a Vila Olímpica do Pan, no Rio de Janeiro, onde instalações esportivas estão semi-abandonadas, e que custaram mais de 3 bilhões de reais aos cofres públicos brasileiros. Pequim pode ter errado feio em suas prioridades, mas não é muito diferente do que aconteceria em uma eventual Olimpíada no Brasil. Triste, né? O exemplo de Barcelona, que usou a Olimpíada para se recriar de ponta a ponta, ficou para a história.
(Desculpem a incontinência deste primeiro post; este blogueiro principiante promete posts mais curtos daqui pra frente e compartilhar o cotidiano na China. Frequentemente, os bastidores das reportagens aqui são tão reveladores sobre este país quanto o resultado final das mesmas. Com prazer, quero compartilhar com vocês o assombro que provoca a nova superpotência mundial)

sexta-feira, 27 de junho de 2008

Vaias e aplausos

Publicado na FSP - 06/08/08

O que ocorreu em Bali foi explosão espontânea de frustração com um país que exerce liderança às avessas

AS VAIAS e os aplausos à delegação norte-americana na conferência do clima em Bali apontam para o que está errado no mundo de hoje. Os Estados Unidos foram vaiados pela obstrução ao consenso em tudo, das florestas às metas de redução de gases, passando pela ajuda financeira e tecnológica aos pobres. Quando, no apagar das luzes, decidiram não se opor ao consenso, o alívio fez a sala explodir em aplausos.Em toda minha experiência de conferências da ONU, jamais vi algo parecido: diplomatas não são líderes estudantis e simplesmente não vaiam nunca. O que ocorreu em Bali foi explosão espontânea de frustração com um país que exerce uma liderança às avessas. A liderança positiva é contribuir com paciência para edificar o difícil consenso; a negativa é limitar-se a obstruí-lo. Os Estados Unidos perderam a capacidade de construir consensos. Em parte, devido ao unilateralismo de visão e ação: invasão do Iraque em violação à Carta das Nações Unidas, por exemplo. Em parte, por terem perdido a legitimidade moral em razão dos horrores de Guantánamo e outros sinistros locais de prisão e tortura, direta ou terceirizada. Não sendo mais capaz de fazer os outros partilharem de suas percepções das prioridades internacionais e dos métodos para enfrentá-las, Washington passou a isolar-se numa oposição sistemática ao resto da humanidade. Em contexto diverso, o saudoso embaixador Araújo Castro dizia que o Brasil dos militares, sempre isolado em minoria de dois ou três nas votações da ONU, sofria do "complexo de Greta Garbo": "I want to be alone (eu quero ficar sozinha)". Esse papel pertence agora aos Estados Unidos, em geral solitária voz discordante da unanimidade do universo em favor do Protocolo de Kyoto, do Tribunal Criminal Internacional, do Tratado de Proibição das Minas Antipessoais etc. A exceção americana se faz sentir na natureza das questões e nos métodos de abordá-las. De parte da solução, os Estados Unidos passaram a ser parte substancial dos problemas contemporâneos. Nas negociações comerciais de Genebra, os subsídios ianques se converteram em obstáculo pior que os europeus. No aquecimento global, o obstáculo é duplo. Os americanos não se contentam em serem os principais responsáveis pela questão: são também a pedra maior no caminho da solução. Frustrados com o multilateralismo, que não passa da expressão da democracia em âmbito internacional, os EUA preferem impor seu poder em arranjos com parceiros escolhidos a dedo. Os acordos de livre comércio lhes permitem fazer engolir seus subsídios a países mais débeis, em troca do acesso destes ao mercado ianque. Em clima, organizam reuniões pequenas, como a que o Brasil se apresta a participar, com o objetivo de solapar o processo da ONU. Com isso, desfazem, passo a passo, o sistema político e econômico internacional que eles mesmos haviam criado sob a liderança de Franklin D. Roosevelt no final da Segunda Guerra. Em "The Second Coming", os melhores não têm nenhuma convicção, os piores estão cheios de apaixonada intensidade, as coisas caem aos pedaços e a anarquia se derrama sobre o mundo. Tudo isso, na intuição poética de Yeats, quando "o centro não é mais capaz de sustentar". As eleições norte-americanas serão capazes de produzir uma "segunda vinda", não como na profecia, mas em termos de um centro regenerado e de uma liderança esclarecida?

quinta-feira, 26 de junho de 2008

Questões - Prova 1º ano - 2º trim. - 2008

1. (0,5) A reportagem trata da recente descoberta de grandes reservas de petróleo na costa brasileira. O anúncio dessas reservas veio acompanhado de grande festa pelo governo e por boa parte da mídia brasileira. Podemos dizer que essas comemorações são embasadas, entre outros fatores:

I - Em campanhas nacionalistas, como a “O Petróleo é nosso!” e defendem que somente a Petrobrás tenha acesso as reservas recém descobertas, alterando o modelo de concessão vigente atualmente.
II – No potencial de riquezas geradas por essas reservas, uma vez que o Brasil passaria a ser exportador de petróleo, e assim ganharia bastante dinheiro.
III – No atrativo econômico dessas reservas, pois com elas o Brasil teria uma espécie de garantia de que não faltaria energia no país, atraindo assim mais investimentos estrangeiros que impulsionariam ainda mais nosso crescimento econômico.

a) Nas afirmativas I e II.
b) Nas afirmativas I e III.
c) nas afirmativas II e III.
d) Em todas afirmativas acima.
e) Em apenas uma das afirmativas acima.

2. (2,5) Em sala de aula vimos que a importância geopolítica de um país se dá, basicamente, por fatores econômicos e militares. Fizemos inclusive uma atividade para analisar o impacto geopolítico das descobertas dessas novas reservas de petróleo para o país. Com base na reportagem acima e em seus conhecimentos responda:

a) Como essas reservas podem trazer benefícios econômicos para o Brasil?

b) Por que a posse de grandes reservas de energia é um fator de destaque na determinação da geopolítica de um país?

3. (0,5) "Observa-se desde a campanha norte-americana no Afeganistão o início de uma nova luta por zonas de influência, que deixam as fronteiras asiáticas sujeitas a pressões em que se misturam interesses das potências regionais (China e Índia), disputas e impasses territoriais, uma miscelânea de “zonas proibidas”, dominadas por cartéis de produtores de drogas e chefes tribais, rotas de comércio intermitentes e, por fim, para embaralhar ainda mais o tabuleiro, a penetração agressiva dos EUA. Como resultado, China e Índia, em comunicado conjunto, manifestaram seu “alarme ante a ação militar americana no Iraque". (Adaptado de "Primeira Leitura", n. 18, ago. 2003.)

Com base no texto e em seus conhecimentos dê a soma das afirmações corretas:
(01) A ação dos EUA no Iraque está ligada a interesses geopolíticos que vão muito além do combate ao terrorismo.
(02) Apesar das novas tecnologias, as disputas geopolíticas contemporâneas são motivadas por fatores geográficos tradicionalmente importantes nas relações internacionais, como a distribuição de recursos naturais, o controle sobre posições estratégicas e as diferenciações nacionais e regionais criadas pela combinação de inúmeros elementos políticos, econômicos e culturais.
(04) A geopolítica mundial continua sendo definida pelos conflitos entre EUA e Rússia, que são as maiores potências nucleares do planeta, pois as potências regionais precisam se aliar a um dos lados em disputa para garantir suas áreas de influência.
(08) A geopolítica atual é marcada pela ascensão de agentes econômicos e políticos que atuam independentemente dos Estados nacionais e são capazes de ameaçar sua segurança e soberania.
(16) O interesse dos EUA em redemocratizar os países do Oriente Médio causa preocupação aos regimes ditatoriais da China e da Índia porque a expansão da democracia pode torná-los diplomaticamente isolados no contexto asiático.


Observe a tabela abaixo com as posições de alguns países a partir de seu IDH.
Fonte: Portal G1.

4. (1,5) Na tabela, é possível observarmos que a Islândia é o país com maior IDH do mundo, ou seja, de acordo com os critérios adotados para medir o Índice de Desenvolvimento Humano das nações é o país com melhor qualidade de vida do mundo.
Em sala de aula vimos que países centrais são aqueles de maior importância geopolítica, enquanto países periféricos são aqueles de menor importância geopolítica. Sabemos que a posição no IDH não reflete a importância geopolítica de um país. Assim a Islândia pode ser considerada um país mais periférico do que muitos outros que aparecem na tabela em posição pior do que a sua. Cite um desses países e explique por que ele é geopoliticamente mais central do que a Islândia mesmo tendo uma qualidade de vida pior do que a sua.

5. (0,5) (Enem- 1998) Os efeitos abomináveis das armas nucleares já foram sentidos pelos japoneses há mais de 50 anos (1945). Vários países têm, isoladamente, capacidade nuclear para comprometer a vida na Terra. Montar o seu sistema de defesa é um direito de todas as nações, mas um ato irresponsável ou um descuido pode desestruturar, pelo medo ou uso, a vida civilizada em vastas regiões. A não-proliferação de armas nucleares é importante.
No 1º domingo de junho de 98, Índia e Paquistão rejeitaram a condenação da ONU, decorrente da explosão de bombas atômicas pelos dois países, a título de teste nuclear e comemoradas com festa, especialmente no Paquistão. O governo paquistanês (país que possui maioria da população muçulmana) considerou que a condenação não levou em conta o motivo da disputa: o território de CAXEMIRA, pelo qual já travaram três guerras desde sua independência (em 1947, do Império Britânico, que tinha o Subcontinente Indiano como colônia). Dois terços da região, de maioria muçulmana, pertencem à Índia e 1/3 ao Paquistão.

Sobre o tempo e os argumentos podemos dizer que:
a) a bomba atômica não existia no mundo antes de o Paquistão existir como país.
b) a força não tem sido usada para tentar resolver os problemas entre Paquistão e Índia.
c) Caxemira tornou-se um país independente em 1947.
d) os governos da Índia e Paquistão encontram-se numa perigosa escalada de solução de problemas pela força.
e) diferentemente do século anterior, no início do século XX, o Império Britânico não tinha mais expressão mundial.


6. (0,5) As reportagens mostram que as causas dos terremotos ocorridos em São Paulo e na China são diferentes, e isso ocorre por que:

a) A região do epicentro do terremoto chinês fica numa falha geológica, ou seja, no encontro de duas placas tectônicas, enquanto o epicentro do terremoto em São Paulo ocorreu longe de uma dessas falhas.
b) Os cientistas brasileiros ainda não sabem o que causou o terremoto no Brasil e os chineses já descobriram a causa de seu terremoto, ou seja, eles podem ter a mesma causa, mas ainda não sabemos.
c) Na verdade nenhum terremoto tem a mesma causa, eles são sempre diferentes entre si, embora seus efeitos sejam muito parecidos.
d) O terremoto em São Paulo foi sentido por poucas pessoas e não houve mortos, enquanto na China houveram milhares de mortos.
e) NDA

7. (Ufsc - alterada) (0,5) Leia atentamente e observe o mapa a seguir:
21 de Maio de 2003: um terremoto de 7,6 graus na escala Richter atingiu Boumerdes, a 50 quilômetros da capital Argel, na Argélia, matando cerca de 2000 pessoas e ferindo aproximadamente 7000.
29 de Maio de 2003: comemorado o cinqüentenário da chegada ao topo do Everest, a montanha mais alta do mundo, localizada entre o Nepal e o Tibet, na cordilheira do Himalaia, pelo neozelandês Edmund Hillary e o nepalês Tenzing Norgay.

MAPA DAS PLACAS TECTÔNICAS
Fonte: ANTUNES, Celso. "Aprendendo com mapas". São Paulo: Scipione [s.d.].

1 - Placa do Pacífico
2 - Placa de Cocos
3 - Placa de Nazca
4 - Placa das Caraíbas
5 - Placa Sul-Americana
6 - Placa Norte-Americana
7 - Placa Africana
8 - Placa Arábica
9 - Placa Indo-Australiana
10 - Placa Antártica
11 - Placa Filipina
12 - Placa Eurasiana

Considerando os acontecimentos acima, o mapa das placas tectônicas e os conhecimentos sobre a dinâmica terrestre, podemos dizer que estão corretas as afirmações:

I - O território brasileiro apresenta como principal característica o predomínio da ação dos agentes internos da dinâmica terrestre, cuja maior conseqüência é a presença maciça de dobramentos modernos.
II - O tectonismo, os abalos sísmicos e o vulcanismo são agentes internos do relevo, sendo que os dois últimos constituem fenômenos que, dependendo da intensidade e do local onde ocorrem, trazem graves conseqüências à vida das pessoas, como aconteceu na Argélia.
III - A área onde se encontra o Everest e aquela onde está localizada a Argélia situam-se em regiões de placas tectônicas nas quais os abalos sísmicos, o tectonismo e o vulcanismo são freqüentes.
IV - A instabilidade dos terrenos nas bordas das placas tectônicas é resultado da ação de forças internas cujos reflexos, alguns lentos e outros rápidos e catastróficos, são sentidos na superfície do planeta.

a) Apenas as I, II e III.
b) Apenas as II, III e IV.
c) Apenas a I, III e IV.
d) Apenas a II e IV.
e) Todas as afirmativas estão corretas.

8. (0,5) Em fevereiro do ano de 2004, o jornal "Folha de S. Paulo", na sua versão on line, ao tratar de um abalo sísmico ocorrido no subcontinente indiano, fez a seguinte abordagem:

"O violento terremoto que ocorreu hoje a noroeste da Índia é uma nova manifestação de um fenômeno que teve início há 40 milhões de anos, o lento avanço da Índia em direção ao continente asiático, que 'enrugou' a crosta terrestre dando origem ao maciço do Himalaia.
A Índia, que um dia esteve separada da Ásia, entrou em colisão com o continente, empurrando e deformando a crosta terrestre numa extensão do Himalaia até a Sibéria e do mar de Aral até o Pacífico.
Deste modo, o subcontinente age como uma escavadora, que entra constantemente no continente asiático à velocidade de vários centímetros por ano. O principal resultado desse fenômeno de compressão foi o nascimento dos únicos picos do mundo que superam os 8.000 metros de altitude."

A respeito, julgue as afirmativas a seguir.
I. A violência do terremoto ocorrido se explica pela atuação das monções de verão nessa porção meridional da Ásia.
II. A formação do Himalaia se explica pela tectônica de placas, em que o planeta como um todo tende a retomar permanentemente um estado de equilíbrio de compensação de pressões, isto é, isostático.
III. Do ponto de vista da escala geológica de tempo, o processo de formação do Himalaia é um fato recente, que se insere na Era Cenozóica.
IV. Embora a Ásia possua o ponto culminante do planeta, o Pico Everest (8.848 m), a Antártida é o continente de maior altitude média, fato que também contribui para as baixas temperaturas locais.

Assinale, considerando as FALSAS:
a) apenas III e IV
b) todas
c) apenas II e IV
d) apenas I e II
e) apenas I e III

9. (1,5) Apesar do terremoto registrado recentemente e abordado na reportagem acima, o Brasil é um país que dificilmente sofre com esse tipo de catástrofe, assim como não temos também vulcões ativos em nosso território. Tais fatos podem facilmente ser explicados pela Teoria das Placas Tectônicas. Por que, essa Teoria ajuda a entender o fato de o Brasil praticamente não sofrer em seu território com terremotos e erupções vulcânicas?

10. (1,0) Além de fatores internos como vulcanismo e as placas tectônicas, o relevo terrestre também é moldado por agentes externos. Cite dois desses agentes e explique como eles agem para alterar e moldar o relevo.

11. (0,5) Levando em consideração a figura a seguir e os seus conhecimentos sobre terremotos, leia atentamente as proposições e assinale V (verdadeiro) ou F (falso):

( ) Os tsunamis são ondas gigantes ocasionadas pelo deslizamento costeiro ou marítimo, ou por erupções vulcânicas. No ano de 2004, foi registrado no Oceano Índico alto índice de mortes provocado por esse fenômeno.
( ) Os terremotos são vibrações das camadas da crosta da Terra produzidas pelo tremor e oriundas de fenômenos tectônicos ou vulcânicos. Esses fenômenos ocorrem quando as placas tectônicas entram em processo de choque ou acomodação.
( ) As vibrações causadas pelos terremotos são produzidas por ondas longitudinais e transversais, podendo ser consideradas fracas aquelas que não são notadas pelo homem, sendo, porém, registradas pelos sismógrafos.
( ) O alto risco de incidência de terremotos no Japão dá-se pela sua localização em uma região de encontro de placas tectônicas continentais e oceânicas e pelo fato de a região conter várias falhas geológicas, além de inúmeros vulcões.
( ) Se comparados aos que ocorrem no Japão e na Califórnia, os abalos sísmicos no Brasil são de menor intensidade; esse fenômeno pode ser explicado pela situação geológica do país, que dificulta ocorrências de maior proporção.

Marque a alternativa CORRETA:

a) V, V, V, V, V
b) V, F, V, F, V
c) V, V, V, V, F
d) F, V, F, V, F
e) V, V, V, F, F

Questões - Prova 2º ano - 2º trim. - 2008

1. (0,5) A reportagem mostra que os moradores dos países latino americanos tem resistência quanto a entrada de migrantes em seus territórios, no entanto, é da América Latina que provém 10% dos imigrantes do mundo. O fato de ter uma participação tão expressiva dos imigrantes do mundo pode ser explicado, entre outros fatores:

I- Pelo parco desenvolvimento econômico da região que estimula seus moradores a irem buscar trabalho e melhores condições de vida em outros países, inclusive países da própria América Latina que tenham melhores condições de vida.
II- Pelas catástrofes que assolaram a região na década de 80 como os terremotos do México e do Chile que produziram milhões de refugiados.
III – Por seus laços com suas antigas metrópoles européias que costumam facilitar a entrada de parentes dos antigos colonizadores

Está correto o que se afirma nas proposições:

a) Apenas a I e a II.
b) Apenas a I e a III.
c) Apenas a II e a III.
d) Em todas as afirmações
e) Em apenas uma das afirmações.

2. (1,5) Apesar da pequena aceitação de imigrantes em seu território, os países latino americanos receberam muitos migrantes ao longo de sua história, migrantes esses que contribuíram para o desenvolvimento da região. Explique como a migração é capaz de produzir desenvolvimento e crescimento econômico para uma região.

3. (1,5) Os países africanos são aqueles que possuem os mais altos índices de pobreza e de natalidade. Vimos que estas duas características estão bem relacionadas, de forma que nesse ponto malthusianos e anti-malthusianos concordam. As explicações que estes grupos dariam para a situação africana,porém são bem distintas. Como malthusianos e anti-malthusianos explicariam a situação africana e a relação entre pobreza e natalidade?

4. (0,5) (Enem -1999) Qual dos "slogans" a seguir poderia ser utilizado para defender o ponto de vista (neo)malthusiano?
a) "Controle populacional - nosso passaporte para o desenvolvimento"
b) "Sem reformas sociais o país se reproduz e não produz"
c) "População abundante, país forte!"
d) "O crescimento gera fraternidade e riqueza para todos"
e) "Justiça social, sinônimo de desenvolvimento"

5. (0,5) (Enem-1999) Qual dos "slogans" a seguir poderia ser utilizado para defender o ponto de vista dos reformistas ou anti-malthusianos?
a) "Controle populacional já, ou país não resistirá."
b) "Com saúde e educação, o planejamento familiar virá por opção!"
c) "População controlada, país rico!"
d) "Basta mais gente, que o país vai pra frente!"
e) "População menor, educação melhor!"

6. (0,5) (Enem-2001) De acordo com reportagem sobre resultados recentes de estudos populacionais,

"... a população mundial deverá ser de 9,3 bilhões de pessoas em 2050. Ou seja, será 50% maior que os 6,1 bilhões de meados do ano 2000. (...) Essas são as principais conclusões do relatório Perspectivas da População Mundial - Revisão 2000, preparado pela Organização das Nações Unidas (ONU). (...) Apenas seis países respondem por quase metade desse aumento: Índia (21%), China (12%), Paquistão (5%), Nigéria (4%), Bangladesh (4%) e Indonésia (3%).
Esses elevados índices de expansão contrastam com os dos países mais desenvolvidos. Em 2000, por exemplo, a população da União Européia teve um aumento de 343 mil pessoas, enquanto a Índia alcançou esse mesmo crescimento na primeira semana de 2001. (...)
Os Estados Unidos serão uma exceção no grupo dos países desenvolvidos. O país se tornará o único desenvolvido entre os 20 mais populosos do mundo."
"O Estado de S. Paulo", 3 de março de 2001.

Considerando as causas determinantes de crescimento populacional, pode-se afirmar que,
a) na Europa, altas taxas de crescimento vegetativo explicam o seu crescimento populacional em 2000.
b) nos países citados, baixas taxas de mortalidade infantil e aumento da expectativa de vida são as responsáveis pela tendência de crescimento populacional.
c) nos Estados Unidos, a atração migratória representa um importante fator que poderá colocá-lo entre os países mais populosos do mundo.
d) nos países citados, altos índices de desenvolvimento humano explicam suas altas taxas de natalidade.
e) nos países asiáticos e africanos, as condições de vida favorecem a reprodução humana.


7. (1,5) (FUVEST- alterada) Com base nas pirâmides etárias brasileiras de 1960 e 2000 explique quais as mudanças estruturais (base; centro; topo) destas pirâmides que indicam melhora na qualidade de vida no Brasil nos últimos quarenta anos. Justifique sua resposta.

8. (0,5) A reportagem mostra que a economia brasileira vem se diversificando e desconcentrando. Dessa forma, o estado de São Paulo, que chegou a ser responsável por mais de 1/3 do PIB nacional vem perdendo espaço principalmente para os estados das regiões norte e nordeste. Tal desconcentração se deve a uma complexa gama de fatores entre os quais podemos destacar o que se afirma:

I- A redução dos fluxos migratórios do norte e nordeste para São Paulo, fazendo com que o mercado consumidor da região se tornasse mais atrativo e funcionando como fator capaz de trazer indústrias para a região.
II – Os programas de transferência de renda que aumentaram o poder de consumo dessas regiões incrementando seu mercado consumidor
III- As migrações européias e japonesas para essas regiões que levaram mão-de-obra qualificada e mercado consumidor para regiões carentes desses dois elementos.

a) Nas proposições I e II.
b) Nas proposições I e III.
c) Nas proposições II e III.
d) Em todas as proposições.
e) Em apenas uma das proposições.

9. (0,5) Além de perder importância no PIB, o estado de São Paulo também assistiu nos últimos anos a uma mudança no perfil econômico de sua principal cidade, a capital São Paulo. Nossa cidade vem deixando de ser uma cidade industrial e passando a ser um pólo fornecedor de serviços. Dentre os fatores que fizeram com que a cidade de São Paulo passasse a ter comparativamente mais serviços e menos indústrias podemos citar:

I- A carga de impostos que é maior na capital, estimulando as grandes indústrias a buscarem outros centros.
II – A retração da economia paulista, que como parou de crescer aumentou o desemprego e levou muitos trabalhadores para a informalidade que é típica de atividades do setor primário e terciário, não do secundário.
III – A superlotação da cidade de São Paulo, de forma que praticamente inviabilizava a construção de mais indústrias.

a) Apenas a I e a II.
b) Apenas a I e a III.
c) Apenas a II e a III.
d) Apenas uma das afirmações acima.
e) Todas as afirmações acima.

10. (0,5) (Ufscar) Há aproximadamente trezentos anos, em torno de 90% dos trabalhadores cultivavam as terras para alimentar uma população muito menor que a atual, enquanto, hoje, a proporção de pessoas que trabalham na terra nos países desenvolvidos diminuiu para cerca de 10% e, em alguns casos, para bem menos que isso. Com base nos dados apresentados e em seus conhecimentos, assinale a alternativa correta:

a) O baixo percentual de mão‑de‑obra empregada no setor primário é um fato exclusivo dos países desenvolvidos e industrializados.
b) Em função do intenso desenvolvimento industrial e tecnológico e da capacitação dos trabalhadores, os países desenvolvidos não sofrem, hoje, com o problema do desemprego, seja no campo ou na cidade.
c) Os países subdesenvolvidos mantêm as características de baixo nível de qualidade de vida da população por não haverem ainda se tornado países industrializados.
d) Entre os países desenvolvidos, a mecanização do campo, reduzindo a população nele empregada, acarretou uma diminuição no total das áreas de terras cultivadas, mas, no entanto, aumentou a produtividade.
e) Esta imensa diminuição da mão de obra do setor primário deve-se principalmente a industrialização e por isso esta intimamente ligada com a melhoria da qualidade de vida.

11. (1,5) Vimos em sala de aula que o inchaço do setor terciário é fenômeno típico de países com alto grau de industrialização e desenvolvimento. Vimos também que o Brasil é um país que possui um setor terciário inchado, embora saibamos que nosso país não é, infelizmente, exemplo de desenvolvimento. Assim por que o Brasil tem o setor terciário inchado e por que isso não faz com que sejamos desenvolvidos?

12. (0,5) (Puc-rj) "O governo francês irá pagar uma licença de 750 euros (cerca de R$ 2.050,00) por mês, durante um ano, a famílias que decidirem ter um terceiro filho, anunciou ontem o primeiro-ministro do país, Dominique de Villepin."
("Folha de S. Paulo", 23.09.2005)

A reportagem acima ilustra uma política cada vez mais comum entre os países europeus. As alternativas abaixo contém possíveis causas que motivam a adoção de tais medidas, EXCETO:
a) as baixas taxas de natalidade de muitos países europeus.
b) as altas taxas de mortalidade européias, que resultam na diminuição da PEA - população economicamente ativa.
c) a tentativa de evitar que num futuro a médio prazo a população nativa possa tornar-se minoritáriadiante da população imigrante - cujas taxas decrescimento vegetativo são bem mais altas.
d) o impacto que a diminuição da mão de obra ativa está causando ao sistema previdenciário europeu.
e) a difícil tarefa dos dirigentes da União Européia em administrar a necessidade de manuntenção de um fluxo controlado de movimentos populacionais horizontais ao mesmo tempo em que tenta reprimir o aumento da xenofobia.

Questões - Prova 3º ano - 2º trim. - 2008

1. O texto acima explica resumidamente o que é o Consenso de Washington. As idéias defendidas por seus adeptos, como mostra a reportagem foram chamadas de neoliberais. Sobre essas idéias é incorreto afirmar que:

a) defendem que a participação do Estado deve se restringir a serviços básicos e sobrtudo defesa da propriedade privada, defesa do território e manutenção de um ambiente econômico competitivo.
b) tem íntima relação com as privatizações ocorridas no Brasil e em vários outros países do mundo, uma vez que acabavam por diminuir a ação direta do Estado na economia.
c) sua força se relaciona com o fim dos Estados socialistas e a diminuição do poder dos sindicatos no mundo todo.
d) de forma distinta dos estados intervencionistas também buscam alcançar o pleno emprego e o desenvolvimento econômico.
e) NDA
Vimos em sala de aula que o Consenso de Washington está inserido em um contexto de retorno das idéias liberais. Pudemos perceber que o embate entre liberalismo e intervencionismo marcou o debate no século XX e teve, entre os que defendiam o capitalismo duas principais vertentes: o liberalismo e a social-democracia. Durante o trimestre procuramos trabalhar as duas correntes como formas distintas de se pensar a sociedade e buscar o desenvolvimento. Pensando nisso, responda:

2. (1,5) Usando argumentos liberais, como menor participação do Estado na economia pode produzir mais emprego e crescimento econômico para toda a população?

3. (1,5) Usando argumentos social-democratas, como uma maior intervenção do Estado na economia pode produzir mais emprego e crescimento econômico para toda a população?

4. (0,5)(Enem-1998) As diferentes formas em que as sociedades se organizam socioeconomicamente visam a atender suas necessidades para a época. O liberalismo, atualmente, assume papel crescente, com os Estados diminuindo sua atuação em várias áreas, inclusive vendendo empresas estatais. Da idéia de interferência estatal na economia, do "Estado de Bem-Estar", da assistência social ampla e emprego garantido por lei, e, às vezes, à custa de subsídios (na Europa defendido pela Social-Democracia), caminha-se para um Estado enxuto e ágil, onde a manutenção do progresso econômico e uma maior liberdade na conquista do mercado são as formas de assegurar ao cidadão o acesso ao bem-estar. Nem sempre a população concorda.
Neste contexto, as eleições gerais na Alemanha, em 1998, poderão levar Helmuth Kohl, com longa e frutuosa carreira à frente daquele país, a entregar o posto ao social-democrata Gerhard Schroeder. O desemprego na Alemanha atinge seu ponto máximo. A moeda única européia será o fim do marco alemão. A imagem de Helmuth Kohl começa a desvanecer-se. Conseguirá vencer este ano? Seja como for, ele luta. Mas recebeu um novo e tremendo golpe: o Partido Liberal (FDP) deixou Kohl. O secretário-geral do FDP, Guido Westerwelle, declarou: Começou o fim da era Kohl!

A Alemanha ajuda a concretizar o bloco econômico da União Européia. A participação neste bloco implica a adoção de um sistema socioeconômico que:
a) dificulte a livre iniciativa econômica, inclusive das grandes empresas na Alemanha.
b) ofereça mercado europeu mais restrito aos produtos e serviços alemães.
c) diminua as oportunidades de iniciativa econômica para os alemães em outros países e vice-versa.
d) garanta o emprego, na Alemanha, pelo afastamento da concorrência de outros países da própria União Européia.
e) por meio da união de esforços com os países da União Européia, permita à economia alemã concorrer em melhores condições com países de fora da União Européia.

5. (0,5) (UFRJ) Leia o texto que menciona a ação do Estado na economia.

Os argumentos favoráveis à reforma do Estado podem ser resumidos nos seguintes termos: com a crescente globalização da produção, da circulação de mercadorias, dos padrões de consumo e do sistema financeiro, alega-se que o desenvolvimento socioeconômico não pode mais ser pensado a partir da dimensão nacional, menos ainda a partir de uma estrutura burocrática estatal.
OLIVA, J.; GIANSANTI, R. "Temas da Geografia do Brasil". São Paulo: Atual, 1999. p. 55.



A partir da argumentação apresentada no texto, o desenvolvimento socioeconômico deve ser estruturado em função do:

a) mercado e da integração econômica mundial.
b) interesse social e da economia local.
c) poder econômico local e do consumo nacional.
d) interesse estatal e das preocupações sociais.
e) interesse do capital e do governo nacional.

6. (0,5) Antes da atual ascensão do capitalismo, o mundo viveu sob a Ordem Mundial da Guerra Fria. Durante este período, as idéias liberais estavam em crise e as experiências intervencionistas dominavam o planeta. Sobre este período e suas características podemos dizer que estão corretas as afirmações:

I – Nos países capitalistas as experiências intervencionistas foram desde as ditaduras militares até os Estados do Bem-Estar-Social, todos em maior ou menor grau, se relacionavam com a tentativa de brecar os avanços socialistas.
II – Embora defendesse o capitalismo, a social-democracia defendia forte atuação do estado na economia como forma de amenizar os desequilíbrios e desigualdades inerentes ao sistema.
III – As lutas dos trabalhadores diminuíram bastante neste período, pois o Estado já lhes garantia os direitos pelos quais haviam lutado.

a) Apenas a I e a II.
b) Apenas a I e a III
c) Apenas a II e a III.
d) Todas as alternativas estão corretas
e) NDA

7. (1,5) Foram as idéias do “socialismo científico” defendidos por Marx que inspiraram a Revolução Russa e marcaram o duelo político-ideológico da Ordem Mundial da Guerra Fria. Neste período, capitalistas e socialistas julgavam-se os verdadeiros defensores da Liberdade e da Justiça. Explique sucintamente como cada lado argumentava ser o seu sistema o que promovia a verdadeira justiça e liberdade.

8. (0,5)(UFMG) O quadro de paz e estabilidade que se previa ao final da Guerra Fria parece, ainda, longe de ser alcançado nestes primeiros anos do século XXI. Considerando-se essa situação, é INCORRETO afirmar que
a) a vitalidade expressiva do crescimento de algumas economias não-ocidentais, em face às atuais potências mundiais, tem interferido nas relações de força que imperam na política internacional.
b) o desarmamento mundial, que ultrapassou as propostas originais para esse processo, tornou vulneráveis os países considerados esteios da segurança internacional.
c) o fim de uma ameaça global, representada pela disputa entre capitalismo e socialismo, abriu espaço para múltiplos conflitos de motivação étnico-religiosa e de nacionalidades.
d) o notável crescimento demográfico de populações muçulmanas vem constituindo um contingente numeroso, geograficamente disperso, que abriga valores divergentes da civilização ocidental.
e) NDA



9. (0,5) De modo geral, o período de 1965 a 1973, tornou cada vez mais evidente a incapacidade do fordismo e do keynesianismo de conter as contradições inerentes ao capitalismo. Essas dificuldades podem ser apreendidas por uma palavra: rigidez. Rigidez dos investimentos de capital fixo de larga escala e de longo prazo em sistemas de produção em massa; rigidez nos mercados, na alocação e nos contratos de trabalho; rigidez dos compromissos do Estado. Por isso mesmo a nova ordem era flexibilizar.(Adaptado de David Harvey in "Condição Pós-Moderna".)
Assinale a alternativa que não indica corretamente o que foi flexibilizado.
a) A localização dos processos produtivos.
b) Os estoques de matérias-primas e de produtos acabados.
c) O controle das grandes sobre as pequenas e médias empresas.
d) Os produtos e os padrões de consumo.
e) Os processos e os contratos de trabalho.

10. (0,5) (Puccamp) Os anos 90 foram marcados por inúmeras transformações na geopolítica mundial. Dentre elas destacam-se:
I. Fim da Guerra Fria.
II. Ampliação da globalização econômica.
III. Maior disputa geopolítica-ideológica entre Leste-Oeste.
IV. Consolidação de uma política capaz de atender às demandas sociais e as do capital transnacional.
V. Divisão dos países entre Primeiro, Segundo e Terceiro Mundos.

Está correto SOMENTE o que se afirma em
a) I, II e III.
b) I, II e V.
c) I e II.
d) III e IV.
e) IV e V.

11. (1,5) Conforme estudamos em sala de aula, o liberalismo voltou a fazer sucesso e a ser adotado a partir da década de 70. Porém, foi com o fim da Guerra Fria que a nova onda liberal tomou conta do planeta. É o chamado (neo)liberalismo. No Brasil e em vários outros países do mundo, uma série de privatizações marcou esta década. Como as privatizações se encaixam na política (neo)liberal?

12. (0,5) A Ordem Mundial da Revolução Industrial, como todas as Ordens Mundiais, possuía características geopolíticas próprias que nos permitem, inclusive, nomeá-la como tal. Podemos afirmar que são fatores típicos desta época todas as alternativas abaixo exceto:

a) A multipolaridade tendo como nações mais influentes as potências européias e não os EUA, como ocorre hoje.
b) Uma produção de mercadorias bem dividida, com as nações imperialistas européias concentrando industrialização, e os países da América Latina, África e Ásia, responsáveis pelo fornecimento de matéria-prima.
c) Um crescimento contínuo de nacionalismos, principalmente na Europa, o que ajudou a criar o ambiente da I Guerra Mundial.
d) A forte industrialização de quase todas as partes do mundo, de forma que, embora EUA e Europa se industrializaram mais, mesmo o Brasil montou um dinâmico parque industrial.
e) NDA