segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Entrevista - Renata Falcone

Renata Falcone Capistrano da Silva,23 anos, é assessora Jurídica. Formada na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco – USP.

FdM: Como foi que você escolheu fazer o curso que fez?

R.F.: No colégio, sempre tive maior afinidade com a área de biológicas, porém, no momento de escolher uma carreira, a possibilidade de um futuro profissional estável teve grande peso. Claro que a satisfação pessoal também foi muito importante na escolha, o que me levou ao curso de Direito, cujo leque de possibilidades de atuação após a graduação é imenso. Assim, eu, que sempre me interessei por Biologia, poderia trabalhar com Biodireito ou Direito Ambiental. Além disso, há possibilidade de dedicação à pesquisa, ao magistério, à prática da advocacia, a concursos públicos, entre outras. Enfim, essa área comporta todos os tipos de talentos e afinidades. É muito raro alguém que não encontre uma área de interesse dentro do mundo jurídico.

FdM: Qual foi seu primeiro emprego na área e o que fazia?

R.F.: Minha primeira experiência profissional foi um estágio voluntário no Ministério Público do Estado de São Paulo, na Promotoria de Meio Ambiente. Basicamente, eu auxiliava o Promotor na condução de Inquéritos Civis Públicos, em que se investigava a ocorrência de um dano ambiental e as medidas de reparação desse dano pelos responsáveis. Eu realizava o mesmo trabalho que os estagiários concursados, porém, sem receber dinheiro. Em compensação, o aprendizado foi enorme.

FdM: E daí como chegou onde está hoje?

R.F.: Esse meu primeiro estágio me fez perceber que gostava muito da atuação do Ministério Público na defesa dos direitos difusos da sociedade. Achei muito interessante a existência de uma Instituição responsável por tutelar os direitos que, justamente por pertencerem a todos, indistintamente, muitas vezes, ficam desamparados. Assim, fui em busca de estágios nesse campo e prestei concurso no Ministério Público do Trabalho, onde atuei como estagiária por dois anos. Dentro do MPT passei por algumas áreas e terminei por estagiar no gabinete da Procuradora-Chefe, que me convidou para ocupar um cargo de sua confiança – Assessora Jurídica, após a conclusão da minha graduação, já que este cargo é privativo de bacharéis em Direito. Fiquei como estagiária até dezembro e em janeiro já estava na Assessoria Jurídica.

FdM: Conte como é sua rotina de trabalho (o que faz, que horas acorda, que roupa usa...)

R.F.: Eu trabalho das 8:00h às 17:00h, com controle de ponto, em um edifício tipo escritório e no computador na maior parte do tempo. Meu trabalho é produzir pareceres em processos judiciais e administrativos, além de realizar pesquisas e auxiliar a Procuradora-Chefe em questões jurídicas. O ambiente de trabalho requer o uso de trajes sociais.

FdM: O que você mais gosta no seu trabalho? E o que mais se orgulha?

R.F.: O que mais gosto no meu trabalho é a oportunidade de estar sempre estudando e crescendo intelectualmente. Cada processo é diferente do outro e cada caso tem suas peculiaridades, que demandam conhecimentos específicos. Isso impõe a constante realização de pesquisas e de aprofundamento de conhecimentos, que terminam por ampliar cada vez mais o universo do saber. Além disso, a convivência com pessoas altamente gabaritadas, como os Procuradores e os outros Assessores com quem trabalho, é extremamente estimulante.
Meu maior orgulho é participar de uma Instituição que, como já disse anteriormente, cuida da tutela dos direitos coletivos e difusos, o que reflete em benefícios a toda a sociedade. Sinto que meu trabalho ajuda na construção de um país melhor, com menos desigualdades e maior respeito à dignidade das pessoas.

FdM: O que você menos gosta no seu trabalho?

R.F.: Toda moeda tem seus dois lados. Ao tentar fazer Justiça, que acredito ser o objetivo de todos os operadores do Direito, tem-se que lidar diariamente com injustiças. Por exemplo, faz parte da minha rotina trabalhar com precatórios, que são procedimentos destinados ao pagamento das condenações judiciais do Estado. Ocorre que o Estado (em todas as esferas da Federação) costuma ser um mau pagador e impõe às pessoas a quem deve anos de espera até que possam receber seus direitos. Não são raros precatórios trabalhistas referentes a ações da década de 1980 que ainda não foram pagos, sem nenhuma previsão de que isso ocorra em breve. Isso que dizer que o trabalhador que prestou serviços ao Estado está a quase trinta anos esperando para receber verbas decorrentes de seu contrato de trabalho, cuja natureza é alimentar. Lidar com situações deste tipo, diariamente, é bastante frustrante.

FdM: E na Faculdade, o que mais gostava e o que menos gostava?

R.F.: É difícil dizer o que mais gostava na faculdade, pois adorava tudo. O ambiente acadêmico é muito rico em contatos e experiências que levamos para toda a vida. Os professores são pessoas de vastíssimo conhecimento em suas áreas de atuação, afinal, passar em um concurso para dar aulas na São Francisco não é nada fácil. É certo que alguns se mostravam um pouco desinteressados, mas o contato com eles sempre foi uma experiência enriquecedora. Além disso, os próprios alunos também são pessoas muito capacitadas intelectualmente e com ideologias, pontos de vista e experiências muito diferentes, o que possibilitava os mais diversos debates, sobre todos os assuntos. E, é claro, adorava as festas, os trotes, os penduras, os jogos e as peruadas, que são parte muito importante na formação de um franciscano, condição que, uma vez adquirida, leva-se para toda a vida, no coração.
Acho que o que menos gostava eram as apresentações seminários em que alguns poucos alunos expunham parte da matéria para o resto da turma. Achava essas exposições contraproducentes, já que o nível de atenção despendido pelos ouvintes era quase nulo.

FdM: O que um jovem que queira seguir uma carreira como a sua precisa ter?

R.F.: Acredito que o mais importante seja a curiosidade, a capacidade de interessar-se pelos mais diversos assuntos, já que nunca se sabe qual o tipo de conhecimento que alguma causa vai requerer. É preciso não ter medo de muito estudo e muita leitura. Além disso, também é importante ter a capacidade de colocar-se no lugar do outro, pois, somente assim, é possível defender uma causa com paixão, o que é requisito essencial para a boa prática do Direito.

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