segunda-feira, 10 de novembro de 2008

DA ESPIONAGEM AMOROSA & OUTRAS INVASÕES BÁRBARAS

Crônica publicada em 10/11/08 no Carapuceiro

Por: Xico Sá


A amiga M. conta que, mais uma vez, caiu na tentação de fazer uma rápida espionagem no telefone do mancebo.

Quem manda!

Quem procura, acha, como grita o adágio popular mais óbvio.

Aproveitou o banho do condenado para ver, pelo menos, as últimas mensagens de texto.

Maldita caixa de entrada.

Claro que encontrou merda, com licença da palavra, mas foi essa a descarga de inevitável léxico –que outro vocábulo poderia usar nesta fatídica hora?- a preferida para o desabafo a este cronista e conselheiro das moças.

Encurralado, o miserável já havia dito que ficara com outra donzela.

Nada demais, só uns beijos, disse o réu confesso diante das provas incontestáveis. Hoje uma fotinha digital, enviada anonimamente por e-mail, vale por mil cartas anônimas de antigamente.

O infeliz das costas ocas, o lazarento, o febre-do-rato, o cabra safado –aqui reproduzo fielmente o rosário de adjetivos usado por minha amiga traída- aproveitou um desses carnavais fora de época para a famosa prática do pulo à cerca, o mais olímpico e familiar dos esportes brasileiros.

Um homem picareta e uma folia de micareta, definitavamente, não rimam com fidelidade e amor.

A amiga M., porém, já sabia com quem lidava, idiota quem acha que é tarefa fácil engambelar uma fêmea. Não que o moço fosse de tudo um canalha legítimo, era apenas um homem, ainda um amador nessa arte.

O que incomodou mesmo a colega foi a falta de criatividade do desalmado. O filho de uma rapariga havia escrito para a nova presa a mesmíssima coisa que rabiscara mal e porcamente na mensagem com destino à doce M.

Tudo bem, não era nada genial, mas uma frase comovida, dizendo quão bela fora a primeira noite dos dois juntos. Sim, porque é ridículo que um macho e uma fêmea, chabadabadá, como diz a trilha daquele famoso filme de Claude Lelouch (“Um homem, uma mulher, 20 anos depois”, em todas as locadoras do ramo), se locupletem na cama e o silêncio torne irrespirável o dia seguinte.

É preciso, é necessário, e deveria constar da Declaração dos Direitos Universais do Homem, que se diga pelo menos uma coisinha, um agrado, SMS, um mimo, ainda sob o sol que se levanta muito antes dos dois. Não estamos falando em casamentos ou outros laços duradouros, amigo, é questão de educação e delicadeza, simplesmente um carinho depois de tanta intimidade.

O que chateou a amiga, de modo a doer-lhe no fígado, foi que o mal-assombro dela usou as mesmas palavras que mandou para a “vagabunda”.

Claro que o ciúme não é apenas do plágio, da cópia automática, mas isso prova como os homens, além de frouxos para encarar os romances, andam sem a menor criatividade. Gente que gasta a maior lábia para os negócios e os projetos culturais –caso do mancebo sob o tiro ao alvo desta crônica- é incapaz de variar em duas linhas para uma mulher honesta, digo, para uma mulher que presta!

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