terça-feira, 17 de junho de 2008

Uma nova era

Por Antonio Ermírio de Morais - Folha de São Paulo - 08/06/08

PELO QUE entendi das informações chegadas da reunião da FAO em Roma, as questões de energia e de alimentos ocuparam um lugar central. Não se chegou a condenar o uso da cana-de-açúcar e do milho como substitutos do petróleo. Mas tampouco houve grandes aplausos para esse tipo de substituição. Em um dos documentos oficiais, foi ressaltada a importância dos biocombustíveis. Em 2007, a biomassa contribuiu com 10% no total de energia consumida no mundo, sendo que, entre os biocombustíveis, o etanol teve peso de 90%. Para tanto, os Estados Unidos usaram 23% de sua safra de milho, e o Brasil utilizou 54% da sua safra de cana-de-açúcar. São números impressionantes e que suscitam dúvidas. Será que isso não vai comprometer a produção de alimentos? Até que ponto a atual alta de preços se liga à nova atividade? O assunto instiga discussões acaloradas. Ao que tudo indica, porém, com discussão ou sem discussão, o etanol será a grande estrela dos próximos anos. A própria FAO estima que esse combustível, que hoje é usado por apenas 1% do transporte rodoviário, em 2030 representará mais de 3% -e, dali para a frente, o céu é o limite. E então? Sobrarão terras para plantar alimentos? E a segurança alimentar? A FAO considera que a realidade dos países é muito heterogênea. No Brasil, por exemplo, os técnicos, em sua maioria, não acreditam que o etanol vá onerar os alimentos. Roberto Rodrigues, ex-ministro da Agricultura, diz que, dos 62 milhões de hectares cultivados no Brasil, apenas 3 milhões se destinam à cana que produz etanol. A disponibilidade de terras é imensa. E a possibilidade da produtividade crescer ainda mais é muito grande com a chegada de novas variedades e novas tecnologias. Com tecnologia e terras, o Brasil está bem. Temos 220 milhões de hectares de pastagens, dos quais 90 milhões podem ser usados para agricultura. Destes, 22 milhões podem acomodar sem problemas a cana-de-açúcar e 68 milhões podem ser usados na produção de alimentos. Ou seja, o Brasil pode fazer um bom equilíbrio entre alimentos e bioenergia. É uma questão de planejamento bem-feito e de execução rigorosa. Mas, é claro, tudo tem de ser levado muito a sério. Estamos diante de uma oportunidade fantástica: a de sermos o principal país produtor na nova era energética. Com isso, criaremos muitos empregos e teremos muitos impostos e muitos investimentos. Tudo é muito. Oxalá o juízo também o seja!

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