sexta-feira, 20 de junho de 2008

UE põe fim a sanções contra Cuba

Bloco europeu anuncia abertura de "diálogo incondicional" e afirma pretender encorajar abertura na ilha
Retaliações diplomáticas foram impostas em 2003; Espanha liderou defesa de negociações e enfrentou resistência de parceiros

MARCELO NINIO ENVIADO ESPECIAL A BRUXELAS - FSP - 20/06/08

A União Européia anunciou ontem o fim das sanções diplomáticas a Cuba, num gesto destinado a encorajar o dirigente Raúl Castro a acelerar a abertura política do país. A decisão, que encontrou resistência dentro do bloco, prevê a abertura de um diálogo político incondicional com o regime cubano, cujos resultados serão revistos dentro de um ano."Os ministros de Assuntos Exteriores dos 27 países [da UE] decidiram por unanimidade levantar definitivamente as medidas de 2003 e iniciar uma etapa de diálogo incondicional", disse o chanceler espanhol, Miguel Ángel Moratinos, no primeiro dia da cúpula do Conselho Europeu.Assim como fez em 2003, na imposição do castigo em resposta à prisão de 75 dissidentes pelo regime cubano, e em 2005, quando as sanções foram suspensas, a Espanha tomou a frente do tema. O país era o maior defensor do fim das sanções -que, ao contrário do embargo americano, não incluíam boicote econômico, apenas restrições a viagens de autoridades européias a Cuba.As sanções já estavam suspensas há três anos, mas a decisão anunciada ontem tem um importante valor simbólico, apenas quatro meses após a saída de Fidel Castro do poder. "Vemos sinais animadores em Cuba", disse a comissária européia de Relações Exteriores, Benita Ferrero-Waldner. "Queremos mostrar à população de Cuba que estamos prontos a trabalhar com eles."Discussão árduaAlcançar a unanimidade não foi tarefa simples. A dificuldade em falar com uma só voz em assuntos de política externa é um dos pontos fracos da UE, que o Tratado de Lisboa pretende corrigir. O caso de Cuba é mais um em que a diversidade de 27 visões de mundo tornou árdua a missão dos diplomatas.De um lado estavam países como a Espanha, que acreditam que o fim das sanções pode servir de incentivo para a abertura do regime cubano; de outro, os que o temiam um "apaziguamento" de uma ditadura.Antes do anúncio, o chanceler sueco, Carl Bildt, ressaltou a importância de que a UE não parecesse leniente com a repressão cubana. "Faremos exigências bem duras", disse.A declaração negociada ontem pede a libertação de todos os prisioneiros políticos, a ratificação das convenções de direitos humanos da ONU e o acesso de ativistas humanitários a prisões da ilha.O regime cubano exigia que as sanções fossem eliminadas antes de aceitar as ofertas de diálogo da UE. No documento aprovado ontem, os europeus defendem um diálogo incondicional, que inclua cooperação não só política mas econômica, científica e cultural. O bloco reconhece "as mudanças contínuas de liberalização" empreendidas por Raúl Castro.Por iniciativa da República Tcheca, um dos países mais resistentes ao fim das sanções, foi introduzido no texto um compromisso de que o diálogo com o governo cubano seja acompanhado de conversas com a oposição. Comentando a reação negativa dos EUA ontem, o chanceler espanhol rebateu: ""Pedimos respeito à política da UE, que tem autonomia e legitimidade suficientes para agir em uma região importante como é a América Latina".

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