quarta-feira, 28 de maio de 2008

ensaio sobre a cegueira

extraido do blog do tas

Hoje, no café da manhã, li na Folha um belo texto do Fernando Meirelles descrevendo o exato instante em que luzes se acendiam ao final da exibição especial de "Blindness" para Saramago, em Lisboa no último sábado. Agora, ao cair da tarde do mesmo dia, recebo o link da mesma cena. Bendita Internet! Nos traz de volta "ao vivo" para o mesmo instante através do olhar eletrônico sensível do Quico, filho do Fernando. Moleque travesso, nem nascido era quando essa nossa brincadeira de Olhar Eletrônico começava nos anos 80 (aliás, o link foi enviado por outro companheiro de travessuras na Olhar: Toniko Mello)Abaixo, o comentário do Fernando na Folha.

Encontro com Saramago em cinema de Lisboa
FERNANDO MEIRELLES ESPECIAL PARA A FOLHA

Depois de uma semana que pareceu uma verdadeira montanha russa emocional, saí de Cannes no sábado e fui para Lisboa mostrar o filme "Ensaio sobre a Cegueira" para o autor da história, José Saramago. Por meses, antecipei o quanto a sessão me deixaria ansioso -e não estava errado. Infelizmente, o cine São Jorge, que nos foi reservado, não tinha projeção digital, então foi improvisado um sistema para passarmos nossa fita. Pensei em desistir de mostrar o filme ao ver um teste da projeção, mas o escritor já estava na sala de espera e, em respeito ao compromisso, achei melhor ir em frente.Sentei-me ao seu lado, expliquei aos poucos amigos presentes que só havia legendas em francês e começamos a ver o filme. Sofri cada vez que uma imagem não aparecia ou que uma música mal soava. Ele assistiu ao filme todo mudo e sem reação nenhuma. Ao final da sessão, quando os créditos começaram a subir, sua mulher, Pilar, debruçou-se sobre Saramago e me agradeceu, emocionada. Silêncio ao meu lado. Antes de terminar os créditos principais, as luzes do cinema foram acesas, eu ousei olhar para o lado e vi que ele fitava a tela sem reação, como se estivesse interessado no nome dos assistentes de cenografia que passavam.Deu tudo errado, pensei. Toquei seu braço levemente e lhe falei que ele não precisava comentar nada naquele momento, mas, então, com uma voz embargada, ele me disse, pausadamente: "Fernando, eu me sinto tão feliz hoje, ao terminar de ver este filme, como quando acabei de escrever "O Ensaio sobre a Cegueira'". Apenas agradeci e ficamos ali quietos. Dois marmanjos segurando as próprias lágrimas em silêncio. Ele passou a mão nos olhos, disfarçando a sua. Pensei no meu pai. Emoção sólida, dessas que se pode cortar em fatias com uma faca. Num impulso, beijei sua testa. Na conversa e no jantar que se seguiram, ele disse que não considera o filme um espelho de seu trabalho e que nem poderia ser assim, pois cada pessoa tem uma sensibilidade diferente. Disse ter gostado da experiência de ver algo que conhecia, mas que, ao mesmo tempo, não conhecia. Falou que o filme não era perfeito, mas que nunca havia assistido a um filme perfeito. Comentou algumas imagens que o emocionaram especialmente e disse ter achado o nosso Cão das Lágrimas muito doce; preferia que fosse mais agressivo. Quando lhe contei sobre as críticas favoráveis e contrárias ao filme em Cannes, incluindo a da Folha, ele imediatamente lembrou e recontou aquela historinha do velho que vem puxando um burro montado por uma criança. Um passante vê aquilo e acha absurdo a criança estar montada enquanto um velho caminha, então eles invertem a posição. Outro passante cruza com o grupo e reclama da situação: "Como um adulto deixa uma criança a pé enquanto vai confortavelmente montado?".Então, os dois montam no burro, mas alguém acha aquilo uma crueldade com um animal tão pequeno. Finalmente, resolvem ambos carregar o burro nas costas, até que outro passante observa como são estúpidos por carregar o animal. E, enfim, o velho decide voltar para a primeira situação e parar de dar importância ao que dizem. "É isso que faço sempre", concluiu o escritor. Acabo de deixar José Saramago e sua mulher no Ministério da Cultura de Portugal, onde está sendo exibida uma retrospectiva de seu trabalho e sua vida. Houve uma pequena coletiva de imprensa ali, depois de visitarmos juntos a exposição. Meu filminho de menos de duas horas me pareceu muito insignificante ao ser colocado ao lado daquela obra de uma vida inteira. FERNANDO MEIRELLES é o diretor de "Ensaio sobre a Cegueira", "Cidade de Deus" (2002) e "O Jardineiro Fiel" (2005), entre outros

segunda-feira, 12 de maio de 2008

guerras pelo mundo

Extraído integralmente do blog do sérgio dávilla

Há hoje no mundo 30 guerras ou conflitos em andamento. É o maior número desde os anos 90, que foi uma das piores décadas recentes. Nos últimos anos, a tendência de queda deu lugar a um salto que se estabilizou nos atuais 30. Grande parte da culpa está com os Estados Unidos, responsáveis pelas guerras mais "midiáticas", a do Afeganistão e a do Iraque. Mas há outras, várias outras. A pior região do planeta não é o Oriente Médio, que leva a fama, mas a África, que não desperta tanto interesse.Os cálculos são do Departamento de Pesquisa de Conflitos e Paz da Universidade de Uppsala, na Suécia, autor do relatório "Estados em Conflitos Armados". Os pesquisadores dividem os eventos de acordo com sua natureza, que pode ser "Guerras e Conflitos Menores", categoria onde se encaixam Afeganistão e Iraque, "Conflito Não-Estatal" e "Violência Unilateral" -neste último se encaixam as Farc, por exemplo, e o brasileiro Comando Vermelho.Para chegar à categoria principal, eles passam o evento pelo filtro da definição da Fundação Prêmio Nobel, que banca parte do estudo. Guerra, diz a Nobel, é um conflito armado em que há pelo menos mil baixas militares em batalhas, onde ao menos uma das partes envolvidas é o governo de um Estado. A entidade reconhece que, se fosse mais elástica -500 mortes, por exemplo-, o número saltaria.Por que esse blablablá? Porque acabam de sair dois livros que relatam o cinqüentenário do símbolo da paz. Tão simples quanto as boas idéias, o círculo cortado ao meio com duas subdivisões na metade inferior é de 1958, embora só fosse ganhar as ruas e o mundo, para sempre, nas manifestações contra a Guerra do Vietnã, nos anos 60, quando também foi adotado pelo movimento hippie.Como contam Ken Kolsbun e Michael S. Sweeney em "Peace - The Biography of a Symbol" ("Paz - A Biografia de um Símbolo", National Geographic) e Barry Miles em "Peace - 50 Years of Protest" ("Paz - 50 Anos de Protesto", Reader's Digest), ele nasceu de uma necessidade. O artista gráfico britânico Gerald Holtom queria criar uma imagem para o movimento pelo desarmamento nuclear.A divisão britânica do grupo pretendia fazer uma marcha de Londres até Aldermaston, a 84 km da cidade, onde havia um centro de pesquisas nucleares. Era o auge da corrida por armas desse tipo, liderada pelos Estados Unidos e pela então União Soviética, mas também pelo Reino Unido e por outros países da Europa. Holtom queria algo forte, que as pessoas pudessem carregar em cartazes.Então, juntou o símbolo usado pela marinha no semáforo de duas bandeiras para a letra "n", uma figura com os dois braços para baixo, ao símbolo para a letra "d", uma figura com um braço erguido e o outro apontado para o solo, na verdade um traço vertical. Sobrepôs um ao outro e os envolveu num círculo. Nascia o ícone.As letras eram as iniciais para "nuclear disarmament" (desarmamento nuclear), do grupo Campaign for Nuclear Disarmament (CND). Holtom morreu no dia 18 de setembro de 1985, provavelmente aos 70 anos. O CND ainda existe. As armas nucleares também. E há 30 guerras e conflitos em andamento no mundo.